29.8.06

notas rápidas



De volta ao samba

Pensou que eu não vinha mais, pensou
Cansou de esperar por mim
Acenda o refletor
Apure o tamborim
Aqui é o meu lugar
Eu vim
Fechou o tempo, o salão fechou
Mas eu entro mesmo assim
Acenda o refletor
Apure o tamborim
Aqui é o meu lugar
Eu vim
Eu sei que fui um impostor
Hipócrita querendo renegar seu amor
Porém me deixe ao menos ser
Pela última vez o seu compositor
Quem vibrou nas minhas mãos
Não vai me largar assim

Acenda o refletor
Apure o tamborim
Preciso lhe falar...
Eu vim
Com a flor
Dos acordes que você
Brotando cantou pra mim
Acenda o refletor
Apure o tamborim
Aqui é o meu lugar
Eu vim
Eu era sem tirar nem pôr
Um pobre de espírito ao desdenhar seu valor
Porém meu samba, o trunfo é seu
Pois quando de uma vez por todas
Eu me for
E o silêncio me abraçar
Você sambará sem mim
Acenda o refletor
Apure o tamborim
Aqui é o meu lugar
Eu vim

Ele está quase chegando. Amanhã, dia 30 de agosto, Chico Buarque volta aos palcos com a turnê do cd "Carioca". Além das 17 apresentações entre os dias 30 de agosto e 24 de setembro, os fãs serão contemplados com mais oito datas - de 5 a 15 de outubro. Os ingressos para as apresentações extras começam a ser vendidos na sexta-feira, dia 01 de setembro. Portanto, vai a dica, quem não comprou, compre! Informações sobre preços, setores e locais de vendas dos ingressos, acesse www.tombr.com.br

Por aqui, ansiedade pura. Só de pensar que, no dia 08 de setembro, estarei no Tom Brasil vendo e ouvindo Chico Buarque, já bate um arrepio! Um show que, com absoluta certeza, entrará para história - e, justamente por isso, a companhia não poderia ser outra.

*****

Isso sim é seleção!

No domingo, dia 27.08, a Seleção Brasileira masculina de vôlei conquistou o sexto título da Liga Mundial. Derrotar a França em quadras russas não foi fácil. Perdendo os dois primeiros sets , com parciais de 22/25 e 23/25, a equipe comandada por Bernadinho conseguiu reverter o jogo e fez 3 sets a 2 - 25/22, 25/23 e 15/13. Essa foi a quarta consquista consecutiva da Liga pela seleção sob o comando de Bernadinho.

Um jogo emocionante - como há muito não se via no mundo esportivo. Gritei, xinguei, pulei. A adrenalina atingiu o nível mais alto no tie-break, mas os garotos (alguns nem tão garotos assim) mostraram que o vôlei masculino, mais especificamente, a Seleção masculina de vôlei, é a prova de que o esporte pode - e deve - ser um caminho muito bem explorado e conquistado no Brasil.

Sim, o vôlei é uma das minhas paixões que ficaram guardadas na caixa de lembranças da adolescência

*****

Auto-propaganda

Nessa semana, no Site de Cultura Geral da Cásper (no qual trabalho) tem uma entrevista com o fotógrafo e jornalista Luiz Paulo Lima. Ele "discute a questão da negritude, os problemas históricos que atingem os descendentes de africanos e aponta algumas ações para mudar o papel do negro no Brasil". Para os que se interessaram, acesse “Os negros são sempre os coadjuvantes da história brasileira”

27.8.06

para as nossas coisas fáceis


Coisas fáceis, mostrar o caminho
Coisas fáceis, dizer a verdade
Coisas fáceis, cuidar com carinho
Coisas fáceis, viver com vontade

Um abraço, um sorriso, um aceno
Coisas fáceis
Gestos tão pequenos
Coisas fáceis

Muitas vezes esquecemos o quanto as coisas fáceis de se fazer nos são importante. Nem nos damos conta que há um lado muito mais simples para se viver - e que nele, na verdade, se encontram os maiores e melhores dos nossos prazeres. Nos preocupamos demais com tudo que temos para fazer, com tudo que não fizemos e com tudo aquilo que deveríamos ter feito. Mas esquecemos - involutariamente talvez - de (re)viver os momentos e situações que nos enchem de paz e alegria.

Conversárvamos sobre isso pelo telefone e veio aquela vontade de poder estar nas nuvens, de não pensar em nada, de nem perceber que existem coisas difíceis no mundo... mas lembrei das coisinhas simples que ainda acontecem.

Ela foi a companheira para mais uma das tietagens - que eu nem mais sabia como fazer. Estávamos na primeira fileira, sabiámos as letras decor (aqui cabe uma observação: erámos, muito provavelmente, as poucas que se empolgaram durante as quase duras horas de show). Lembramos que tudo isso começou em 2001, mais precisamente, no mês de outubro. Foram horas e mais horas de gritos, pulos, suores e, nada de água. Ali formamos uma grande parceria: encontrei uma companhia para os milhares de shows que ainda viriam.

Nova Brasil FM, 89,7: era a nossa sintonia (e ainda é, né?). Afinidades nos levaram a todos os shows dele. Na noite de quinta-feira, dia 24 de agosto, às 21h30min, a festa era dele. No Citibank Music Hall, Jair Oliveria lançava o cd Simples. Não éramos convidadas especiais como alguns que por lá estavam (entre eles, Simoninha, Max de Castro, Luciana Mello e Patrícia Marx), mas garanto: ele também nos conhecia.
Desde de sempre, Bom dia, anjo nos emociona. Mas existem outras letras que nos embalam e nos fazem abrir aquele sorriso:

Ah! Eu não preciso dizer.
Mas esse meu sorriso é pra você
Sei que não preciso contar
Mas esse meu sorriso é pra te dar

Algumas pessoas são indispensáveis. Já não consigo viver sem elas. Amigos que estão na minha história e que, com absoluta certeza, são parte de mim e de tudo que tenho feito. Uma pessoa de sorte - assim me definiria. Consegui ter por perto (mesmo que não seja tanto quanto desejamos) as pessoas que me fazem sorrir - que saudade, viu?!

Eu preciso de você do meu lado
Bem melhor quando você
Está por perto, perto

ps: a foto é de Márcia Lourenço


*****

“Sonhos são como deuses / Quando não se acredita neles, deixam de existir...”
Já soube que é um trecho de uma música de Paulinho Moska, mas está em meio a palavras - por ele escritas - que fizeram me sentir mais orgulho de tê-lo por perto.

22.8.06

...canta que é no canto que eu vou chegar...


Não há o que falar, eles sabem exatamente o que e como fazer...

humpf!

Em dias como o de hoje, o despertador não deveria ter tocado.

Às vezes, tudo... outras, nada...

humpf!
(ps: mas ainda há o que comemorar...)

21.8.06

para esse sorriso assim

(relembrando os tempos de colégio, voltamos a nos encontrar em shows sensacionais...)

O último foi em outubro de 2005. Já tinha esquecido o quão bonito e emocionante era vê-la no palco. Linda, como sempre, seria a responsável por fechar um domingo muito agradável. A noite era de Maria Rita.

Às 20h do dia 20 de agosto, no Citibank Music Hall, ela faria o último show das três apresentações que reservara para São Paulo neste mês. A turnê é do Cd Segundo, lançado em setembro de 2005:
"Produzido por Lenine e pela própria Maria Rita, este Cd conta com 12 músicas, entre elas, "Caminho das Águas", a música de trabalho deste álbum..."

Acreditava que seria impossível segurar as lágrimas de emoção quando ela nos apresentasse Casa pré-fabricada e Santa Chuva. Mas, para minha feliz surpresa, a emoção veio em forma de paz e felicidade. Enquanto ouvia as lindas letras de Marcelo Camelo na voz de Maria Rita, espontaneamenta, abri esse sorriso assim e senti-me leve como nunca...

... e, em homenagem à tal felicidade, a letra de Feliz (Dudu Falcão):

vem pra misturar juízo e carnaval
vem trair a solidão
vem pra separar o lado bom do mal
e acalmar meu coração
vem pra me tirar o escuro e a sensação

de que o inferno é por aqui
vem pra se arrumar na minha confusão
vem querendo ser feliz

20.8.06

... nas bandas de cá

Depois de toda aquela magia...

... um clima bastante intimista. O lugar é bem pequeno - antes era uma oficina. É onde alguns nomes da nova geração do samba paulistano fazem a sua roda. A recomendação é chegar muito cedo, ou muito tarde - por volta da meia-noite, ninguém entra. Mas isso, de fato, não é o problema. Da calçada também é possível cair no samba do Ó do borogodó. A noite do dia 18 foi de Fabiana Cozza... Escolhemos o bar do Ó como o nosso local. Não consegui identificar ao certo quais eram as pessoas que estavam rendidas ao samba (que, apesar de ser feito por uma geração nova e paulistana, é inspirado naquele samba carioca. Como um resgate, ou melhor, uma apresentação a um novo público... mas essa questão será abordada e discutida em aprofundamento em 2007). A não identificação do público nos rendeu uma bela discussão que adentrou a madrugada e só acabou quando sentamos para o "café-da-quase-manhã". Apesar de encerrada a conversa séria, o assunto em pauta ainda não se esgotou. Há muitos aspectos que precisam ser ditos e ouvidos - mas deixemos para um outra ocasião e para um outro post.

(não foi a primeira vez em que vi Cozza cantar. Já tinha me encantado por ela em outra oportunidade: num show no Auditório do Ibirapuera em que ela e Leci Brandão eram as convidadas de Almir Guineto, Monarco da Portela e Nei Lopes. Sensacional. O samba do Rio é fascinante. Impossível não sair mais leve e cantando "Foram me chamar, eu estou o que há...").

O sábado também teve o samba - do Rio de Janeiro - como trilha sonora. Acabo de chegar de mais uma roda. Dessa vez, o palco da festa foi o Sesc Pinheiros. O homegeado da noite: Nelson Sargento. Os convidados: o maior dos maladros do samba Nei Lopes e a encantadora Teresa Cristina. Para nossa sorte, um pedaço do Rio está pras bandas de cá. Eu, da cadeira 30, na fileira H, deixei-me levar por todo aquele clima de festa malandra.

O primeiro arrepio veio quando ouvi da voz de Teresa Cristina uma letra de Chico Buarque: "Olha aí. Olha aí. Olha aí, ai o meu guri, olha aí...". Todas as vozes do teatro lotado faziam coro...lindo! Nelson Sargento, homenageado pelo aniversário de 82 anos, foi o segundo a nos envolver no clima malandro do morro: "Eu sou o samba. A voz do morro sou eu mesmo sim senhor. Quero mostrar ao mundo que tenho valor. Eu sou o rei do terreiro. Eu sou o samba. Sou natural daquido Rio de Janeiro. Sou eu quem levo a alegria. Para milhões de corações brasileiros...". Para fechar a noite: Nei Lopes e a "Goiabada Cascão": "Goiabada cascão em caixa. É coisa fina, sinhá, que ninguém mais acha...".

Também me rendi ao samba, a um pedaço do Rio... saí de lá com esse sorriso.

18.8.06

“É assim como a luz no coração”

Nem tinha chegado aos seis. Pequenina, inocente e – inconscientemente - desbravadora foi apresentada a ele. Diferentemente das histórias que um dia viriam a lhe contar, o amor não foi à primeira vista. Na verdade, não entendera o seu significado, tampouco sua utilidade. Para quê seriam aquelas linhas finas sem começo nem fim? Para quê tantos, se eram todos iguais? Por que tão escuro? Por que aquele buraquinho que encaixara o dedo mínimo de sua mão? Não entendera, não perguntara.

Soubera que embalados, nada fariam. Mesmo que estivessem lado a lado, não poderiam executar, ao mesmo tempo, a função que lhes foi dada. Ouvira dizer que, apesar de idênticos, cada um teria importância única. Cada uma daquelas linhas traria significados diferentes. Ninguém as interpretaria da mesma maneira. Soubera também que muitos deles não se faziam entender – a não ser que estivessem onde os compreendessem. Isso nem sempre importava para os que por eles eram apaixonados.

Na casa do avô os encontrava com mais freqüência. Ficavam naquele mesmo lugar - e sempre. Ninguém os tirava dali sem que o dono da casa dissesse “sim”. O avô também lhe mostrara que além de embalados, soltos também não eram utilizados – a não ser para dar prestígio para aqueles que os tinham em grande quantidade. Com um olhar curioso, perguntara: “então, por que tê-los?”.

“Aqui é que eles se transformam em algo mágico”, o avô lhe dissera mostrando-lhe uma caixa marrom. Os olhos da pequenina de seis anos brilharam. Ela apenas repetira “algo mágico...”. Atenciosamente, ela observara cada movimento do avô: procurando aquele que mais lhe causava emoções – ele acreditara que aquele também cativaria a sua garotinha -, deixando-o livre daquele papel que lhe protegera e levando até aquela caixa. Ela só acompanhara com o olhar. Sim, já estava encantada antes mesmo de conhecer o que era aquele “algo mágico”.

Só naquela caixa marrom viriam as explicações para as primeiras perguntas: um pino no centro, como seu pequeno dedo da mão, também encaixara no buraquinho; a agulha carregada por uma vareta deslizara pelas linhas finas. Magia. Daquele escuro objetivo soaria, a partir de então, a paz e a alegria – a escolha do avô era incontestavelmente linda. Ali ela ouviria, pela primeira, que “alegria é a melhor coisa que existe”. O amor surgiu – talvez não tão inexplicavelmente. Vivendo Vinícius seria, daquele dia em diante, o seu disco de vinil mais querido.

17.8.06

(...) formosa mulher

Mulheres... vai entender, né?

Formosa
(Baden Powell e Vinícius de Moraes)
Formosa
Não faz assim
Carinho não é ruim
Mulher que nega
Não sabe não
Tem uma coisa de menos no seu coração
A gente nasce, a gente cresce
A gente quer amar
Mulher que nega
Nega o que não é para negar
A gente pega, a gente entrega
A gente quer morrer
Ninguém tem nada de bom sem sofrer
Formosa mulher

16.8.06

ética? ãhn?

E a ética no jornalismo? Nos corredores abafados da faculdade, nas redações dos grandes jornais e revistas e, até mesmo nas conversas de bar, essa questão é pauta permanente. Discutir o fazer jornalístico e suas principais funções perante a sociedade consiste em, inevitavelmente, questionar os limites morais pelos quais o ser humano –e, ao mesmo tempo, o profissional de imprensa - é guiado. E, por tratar e envolver o comportamento individual, a discussão sobre a ética abre espaço para uma outra questão: será que, de fato, existe a ética do jornalismo?

O jornalista Cláudio Abramo – que volta e meia é citado em debates sobre a profissão – defendia que a ética é uma só. Para ele, a ética não muda – e não deve mudar - de acordo com o ofício. “A ética do jornalista é a ética do cidadão”. Abramo dizia que sua ética como marceneiro era a mesma como jornalista. Ou seja, para ele, os caminhos e princípios escolhidos como cidadão devem ser os mesmos que norteiam o do profissional.

Não é raro que o jornalista – de qualquer veículo de comunicação, seja jornal e revista, ou rádio e televisão – depare-se com situações de questionamento sobre seu papel na sociedade. Em meio a uma apuração pode ocorrer uma pausa em relação à pauta para dar espaço a algumas perguntas: qual é o limite do profissional de imprensa? E, além disso, qual é a sua função social? Em reportagens de denúncias, por exemplo, o jornalista deve cumprir seu papel de cidadão ou respeitar o princípio ético jornalístico? É válido gravar imagens ou sonoras sem que a permissão da fonte quando a intenção é mostrar irregularidades que desrespeitam os direitos dos cidadãos?

Se considerada somente a ética do jornalismo, com absoluta certeza, uma gravação sem a autorização do entrevistado, é algo inaceitável. Porém, existe algo que está além e acima dessa ética: o princípio de indivíduo e membro dessa sociedade –, para muitos jornalistas, entre eles Cláudio Abramo, é nele que todos os profissionais de imprensa devem estar ligados. E assim, cabe ao próprio jornalista estabelecer o seu limite ético – que, inevitavelmente, será o mesmo que o conduz em suas ações humanas.

Apesar de distintos, mas por serem conduzidos pelo mesmo indivíduo, os comportamentos pessoais e profissionais acabam convergindo para uma só direção. E, ainda que a atividade jornalística exija a imparcialidade e a objetividade como fios condutores do exercício dessa profissão, nem sempre é possível driblar as ambigüidades que são intrínsecas aos seres humanos em prol de um determinado princípio ético externo – nesse caso específico, da ética do jornalismo. Daí está fundamentada a ética de Abramo: a conduta humana é que comanda a profissional, e não o contrário.

* em reverência *


Para comemorar o céu azul e o brilho do Sol, estou ouvindo o balanço de Vinícius de Moraes...

(...) como isso é bom!

Samba Para Vinícius
Composição: Toquinho - Chico Buarque

Poeta
Meu poeta camarada
Poeta da pesada
Do pagode e do perdão
Perdoa essa canção improvisada
Em tua inspiração
De todo o coração
Da moça e do violão
Do fundo
Poeta Poetinha vagabundo
Quem dera todo mundo
Fosse assim feito você
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinícius, velho, saravá

15.8.06

... caminhando contra o vento ...


Não consegui assitir ao debate dos presidenciávies da TV Bandeirantes - às 22h ainda estava na faculdade discutindo pautas na aula de Telejornalismo. Quando cheguei em casa, começava o quinto e último bloco - em que os candidatos faziam suas considerações finais. Por sorte, consegui pegar os quase dois minutos de Heloísa Helena: "Eu me sinto muito feliz e honrada de poder representar toda a luta de milhares de mulheres e brasileiros. O Brasil já poderia ter tido uma presidente da República pela competência, honestidade, sensibilidade e compromisso social da mulher. Eu quero ter a honra de ser a primeira mulher brasileira para, com a mão firme de mãe, mulher e trabalhadora ajudar o povo brasileiro a fazer deste país uma pátria" (Blog do Noblat).

Depois de desligar a tv, fui para frente do micro e direto para o Noblat, que fez a cobertura ao vivo do debate. Decepção! Li que, como já era previsto, se não fosse algumas intervenções mais expressivas da Helô, a platéia teria dormido de tão desanimador que foi o encontro dos cinco candidatos. Sem a presença do presidente Luís Inácio Lula da Silva, a pauta do debate teve um único e exclusivo foco: a tal da cadeira vazia. Hoje de manhã, como de costume, abri os jornais em busca de detalhes sobre a noite de ontem. Mais uma vez decepção. Não por culpa da cobertura jornalística, mas por não ter existido, de fato, um debate.

(...) depois de um tempinho pensando, encontrei a explicação para essa minha motivação em relação à política. Talvez de maneira ingênua, eu tenha sido influenciada por um documentário que assisti ontem à tarde. Bolívia: História de Uma Crise, de Rachel Boynton, documenta a campanha do ex-presidente boliviano Gonzalo Sanchez de Lozada, conhecido como Goni. Para conseguir vencer as eleições de 2002 - e driblar a rejeição -, o candidato contratou uma equipe de consultores políticos da empresa norte-americana Greenberg Carville que, por meio de uma intensa campanha de marketing, garantem a vitória de Goni.

Porém, as promessas que não são cumpridas, lá são cobradas. E não apenas em conversas nos corredores da faculdade com amigos, nas discussões de bar. Não! A população quer ver o que lhe foi prometido e, para isso, protesta - por sinal, de forma muito eficiente. Goni é obrigado a renunciar. E, a partir daí, o documentário mostra a ascensão de Evo Morales. Sensacional!

Estava procurando esse espírito por aqui. Ilusão, né?! Aliás, o Brasil é um país extremamente saudosista. Explico: por ter passado por uma ditadura militar nos anos de 1960 e 70 - e terem feito várias revoluções contra os milicos, acreditamos que a nossa participação política já foi cumprida. Não queremos fazer agora, nosso desejo era ter participado de todos os movimentos revolucionários daquela época - como se já não existisse motivo para tanto engajamento. Triste, não?!

****
Sobre saudosismo e movimentos estudantis brasileiros em plena ditadura militar, a dica é O Sol, Caminhando contra o Vento, de Tetê Moraes. O documentário, que se passa numa "festa-filmagem", quer mostrar a importância do jornal O Sol, que foi editado por estudantes na cidade do Rio de Janeiro entre 1967 e 1968. Entre as pessoas que participaram de O Sol, estão Ziraldo, Fernando Gabeira, Chico Buarque, Ruy Castro, Ana Arruda Callado e Reynaldo Jardim. O subtítulo - Caminhando contra o Vento - é um trecho da música "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, que teria sido inspirada na publicação carioca: "O sol nas bancas de revista. Me enche de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia. Eu vou".

algo inexplicável!

Do Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa:
Coincidência
Datação1836 cf. SC
Acepções ■ substantivo feminino
ato ou efeito de coincidir
1 igualdade, identidade de duas ou mais coisas
2 ocupação do mesmo espaço; justaposição
3 realização simultânea de dois ou mais acontecimentos; simultaneidade
4 ocorrência de eventos que, por acaso, se dão ao mesmo tempo e que parecem ter alguma conexão entre si
5 concorrência de coisas para um mesmo fim

14.8.06

P-SOL? PSOL? Psol?

A revista Época dessa semana (edição 430) quer descobrir "Qual é a dela?". Ela, no caso, é a candidata à presidência da República Heloísa Helena. Para conseguir responder tal pergunta, a Época, em chamada de capa, afirma que a reportagem estará "Por dentro do mundo e da mente de Heloísa Helena".

A matéria não é nem lá, nem cá. Nas entrelinhas lança expressões como "radicalismo", "socialismo" e outros "ismo" para classificar a posição política da candidata. À ela, por sinal, a revista se refere de três maneiras diferentes: Heloísa Helena, HH e, até mesmo, Lô!

Mas, a pergunta que, de fato, não consegue ser respondida em meio a campanha presidencial é: qual é a pronúncia da legenda do Partido Socialismo e Liberdade. Na matéria da Época, intitulada "A filha do sonho e da dor", o nome do Partido é escrito de três formas diferentes: P-SOL, PSOL e Psol. Tá. Mas qual é o correto?

No site oficial do Partido (www.psol.org.br), o P-SOl está com o hífen. Já no site oficial da candidatura de Heloísa Helena (www.heloisahelena50.com.br), PSOL aparece sem o hífen.

Pêssol, pissol ou psol (como pneu, psiu)????

13.8.06

o que será

"Sim, é possível". Achei que tivesse desaprendido. Por um momento acreditei que não seria possível ficar em silêncio e não pensar em nada. Achei que, mais uma vez, fosse preciso fugir - talvez de mim mesma - para colocar tudo no eixo. Engano. Ingenuidade.

(crescer não é fácil...) Depois dos vinte, isso se torna um clichê de tanto que é dito e ouvido. Depois dos vinte, já não podemos mandar tudo para espaço e começar do zero. Não! Depois dos vinte, as histórias ficam mais sérias e não podem ser deletadas. Não é tão simples assim. Já não existe a varinha mágica e o pó de pirlimpimpim de uma fadinha que encanta e desencanta. Temos que resolver tudo - e, quase sempre, sozinhos. Não podemos esperar que a solução apareça inexplicavelmente. Depois dos vinte ouvimos muitos conselhos - e, quase sempre, são os mesmos e não condizem com aquilo que queremos. E, exatamente por isso, não podemos enganar a nós mesmos. Chega o momento de sabermos o que sentimos e falarmos sobre isso. Já não podemos ficar em cima do muro - mas não podemos também ser radicais. O que podemos então? Aprenderemos. Nos falta paciência, é claro.

Temos a afobação daquela juventude revolucionária brasileira dos anos de 1960 e 70. Talvez sejamos saudosistas demais. Queríamos ter feito mais do que fazemos. Besteira nossa! Ainda temos tempo. Nos falta paciência, já disse, né?

O espelho já não é suficiente para enxergar tudo que se passa aqui dentro. É preciso caminhar pelas ruas e nada enxergar. É preciso correr para conseguir pegar a sessão das 17h30 mesmo quando não tem ninguém a sua espera. É preciso ter planos - mas não ilusões (mas isso a gente só vai aprender depois. Ainda precisamos de ilusões, ou melhor, das desilusões). É preciso ser feliz sozinho para ter a certeza de que é impossível ser feliz sozinho. Precisamos de um tempo para nós mesmos para nos darmos conta de que nada seremos sem cada momento que vivemos. Somos tudo aquilo que já fomos um dia.

Hoje decidi: "sim, é possível". Não desisto dos meus planos, mas, para executá-los, preciso acreditar. O primeiro passo? Sim, estou disposta. E isso já basta e Chico nos espera.

O que será, que será? Que andam suspirando pelas alcovas? Que andam sussurrando em versos e trovas? Que andam combinando no bréu das tocas? Que anda nas cabeças, anda nas bocas? Que andam acendendo velas nos becos? Que estão falando alto pelos botecos? E gritam nos mercados que com certeza Está na natureza. Será, que será. O que não certeza, nem nunca terá? O que não tem conserto, nem nunca terá? O que não tem tamanho?


10.8.06

Da coleção de vinis

O primeiro texto tirado da gaveta tem algo de especial. Tentei falar um pouco da minha ligação com o meu avô. Aí está:

Ouvia as histórias. Diziam: “ele é muito inteligente, poliglota, conhece arte e música clássica como ninguém”. O encanto seria inevitável, como de fato foi. Da infância nada é muito intenso na memória – como se de propósito tivesse apagado qualquer resquício daquela época -, mas, mesmo assim, algo a liga àquelas histórias. Existiram os vinis. Neles, ela sabe, ficaram guardados todos os bons momentos que viveram juntos (e que poderiam ter vivido). Desde bem pequena tinha a certeza de que os LP’s seriam uma ligação com o passado – não saudosista, mas confortante. Em cada uma daquelas faixas circulares, encontraria os ensinamentos que não lhe puderam ser dados. Ela decidiu: as músicas pelas quais ele se apaixonou seriam os primeiros objetos de sua casa.

Era muito nova. Para eles, uma criança apenas. Mas, aos nove anos, já sabia que as bonecas estavam num daqueles baús esquecidos pela vida. Não lhe faziam mais falta. Ela só queria que ele estivesse bem. Tinha medo, por isso cuidava com atenção. Acompanhava o seu ritmo para não o deixar cair. Ainda conversavam. Ele contava histórias que ela já não consegue lembrar. Mas sabe que eram boas e a faziam sorrir. Tinham os livros também. Discos e livros na mesma estante da sala. O tapete e as cortinas verdes. As poltronas. Ele sentava na que ficava à esquerda. Aos sábados, não era servido o jantar. Todos esperavam o café, o pão e o bolo quentinhos. Ele já não tinha uma expressão alegre, mas também estava lá. Ainda tinha o equilíbrio que perderia pouco tempo depois.

Depois de um erro médico durante o transplante de coração, perdeu os movimentos. Quase todos. Tinha um coração jovem, mas não poderia aproveitá-lo. Viveria, a partir de então, os anos que lhe ainda fossem concedidos, na cama. Ela estaria lá. Forte como nunca, mas ainda muito criança para eles. Completará 11 anos e nem percebera que as festinhas aconteciam, que as meninas já não odiavam os meninos, que alguns já se achavam namorados. Ela não queria saber daquilo. Nada lhe interessava. O sono era leve. Acordava com qualquer ruído e corria para o quarto dele: “você está bem?”. Quando a resposta demorava, quase se desesperava, mas tentava mais uma vez: “está tudo bem?”. “Estou”... só então voltava a dormir.

Era um domingo. Outubro de 1998. Ela tinha 13 anos e arriscava-se na cozinha. Naquele dia 18 fez um bolo de chocolate – sua especialidade. Ele não comia sozinho. Precisava de ajuda. Ela deu-lhe na boca. De madrugada algo aconteceu. Ele sentiu-se mal, vomitou. Ela entrou em pânico: acreditava que tivesse sido o bolo de chocolate. Ligaram para a ambulância. Ele a olhou e mais nada precisaria ser dito. Ela saberia que seria a última vez que ele estaria ali. Quando partiram para o hospital, alguém falou: “não se preocupe porque ele vai voltar”. Ela sabia que não.

Filho dos imigrantes sírios da cidade de Iabrud, Antônio Abrahão Arbex e Sultana Assaf, Abrahão Antônio Arbex, nasceu em Rezende, no Estado do Rio de Janeiro, em 12 de agosto de 1925. No final do século XIX, imigrantes sírios, principalmente homens, vieram para o Brasil em busca de uma nova vida. O avô de Abrahão, de quem ele herdou o mesmo nome e sobrenome, chegou ao país em 1895 e, de acordo com o Dicionário das Famílias Brasileiras, de Cunha Bueno e Carlos Barata, se estabeleceu na cidade mineira de Juiz de Fora. Depois de algumas conquistas em terras desconhecidas, os sírios voltavam ao país natal para constituírem família. Assim aconteceu com o avô de Abrahão: de volta à Síria, casou-se e teve filhos, um deles Antônio Abrahão Arbex, pai de Abrahão Antônio Arbex.

Na adolescência, Abrahão foi morar com a família na mesma cidade em que seu avô havia estado pela primeira vez quando chegou ao Brasil. Foi estudar Contabilidade na Universidade Federal de Juiz de Fora e, em meio aos estudos, conheceu Luiza Tarma. Apaixonaram-se. Namorados, freqüentavam os bailes da cidade e eram conhecidos como o melhor casal de dançarinos. Mas, como nas novelas, a história de amor entre Abrahão e Luiza seria interrompida: ele conseguira um emprego na cidade do Rio de Janeiro.

Foram dez anos separados, mas o destino – ou o acaso – levou Abrahão de volta à cidade mineira. Luiza, cinco anos mais nova do que ele, ainda estava lá. Casaram-se em 14 de julho de 1962 na Igreja Melkita Católica. O casamento de Abrahão e Luiza foi o primeiro a ser realizado na Igreja que pertence à família Arbex. Esse era apenas mais um capítulo da história Abrahão e Luiza, que agora também seria uma Arbex.

Casados, mudaram-se para São Paulo e tiveram uma filha. Maria Luiza Tarma Arbex nasceu em 28 de julho de 1963, um ano e uma semana depois do casamento. Na capital paulista tornaram-se comerciantes. Lojas de moda masculina, feminina e íntima deram o sustento e o sucesso à família durante muitos anos. Em 1982, o casamento de Maria Luiza com Sérgio Roberto Pinhata e, três anos depois, o nascimento da primeira das três netas. Em 18 de janeiro de 1985, Abrahão conheceu uma de suas mais ardorosas fãs, Thais Tarma Arbex Pinhata, a menina que levaria a sua coleção de LP’s para qualquer lugar que fosse.