16.10.07

pega um, pega geral?

Tropa de Elite, do diretor José Padilha - o mesmo de Ônibus 174 -, é um daqueles filmes que causam furor antes mesmo de estrear. Em algumas salas de cinema do Brasil, o longa entrou em cartaz uma semana antes da data prevista. Três, das quatro mais importantes revistas semanais de circulação nacional, deram capa ao trabalho de Padilha. Os jornais diários também não se importaram em dar páginas e mais páginas de destaque à Tropa comandada pelo capitão Nascimento. Na internet - nos blogs, grupos de discussão e afins -, o longa está bombando, como dizem por aí. Wagner Moura, o protagonista (e excelente ator), está em todos os canais de televisão ao mesmo tempo... ou seja, Tropa de Elite "pega um, pega geral, e também vai pegar você". Foi nesse clima que sai de casa na quinta-feira à noite para assistir ao filme.

Como todo mundo só falava disso, a opção foi pegar a última sessão, véspera de feriado, da sala 2, do Reserva Cultural. Assistir era só conseqüencia: nas nossas mentes, Tropa de Elite já era o filme do ano. Às 23h35, a música do "pega um, pega geral" começou. A sobrancelha levantou, e deu um sinal de que alguma coisa estava estranha. Mas ok, o principal era o roteiro, a fotografia, os dilemas dos personagens, os tapas na cara que viriam. A música nem era tão importante assim.

Nos primeiros cinco minutos do filme, tudo que eu tinha ouvido falar sobre Tropa de Elite estava massacrado - e literalmente. Pensei: "sou o único ser humano que vai sair do cinema odiando o longa do Padilha, ou seja, serei humilhada em praça pública". Mas, segundo as normas da vida, não basta não gostar, é preciso ter argumentos para justificar a insatisfação.

Não sei por qual motivo, mas confesso que esperava um filme mais profundo. Acreditava que todas as questões que Tropa de Elite aborda seriam discutidas de maneira mais intensa. Decepção. Tudo é muito raso. Os personagens, que são um prato cheio para qualquer psicanalista, antropólogo, sociólogo, viram meros caricatos de uma sociedade dividida entre o bem e o mal. Tudo é muito simples e facilmente explicado. Há, de longe, uma passagem pelas questões éticas e morais - mas com tanto sangue na tela, é impossível discuti-las.

Por não ter gostado do filme, um amigo me disse que faço parte da "classe média melindrada com Tropa de Elite". De acordo com a divisão social do Brasil, sou sim da classe média: já que moro em um apartamento alugado em um bairro central da cidade de São Paulo; já que pago R$ 800 para cursar jornalismo em uma das instituições mais bem localizadas da capital; já que vou ao cinema freqüentemente; e tantos outros já que... porém, tenho que discordar desse meu amigo. Não senti nada em relação ao longa do Padilha. Não me deu nó na garganta, não sai com a sensação de que tinha levado um tapa na cara, não tive vontade de chorar, não fiquei puta com o diretor... Pode parecer insensibilidade, mas garanto que não é. O que realmente me incomodou foi o fato de que todas as cenas estavam tão carregadas de uma realidade superdimensionada. E por isso, o produto final soou falso. Nada mais parecia real.

Assim que o filme terminou, lembrei de uma frase que li numa das críticas publicadas no jornal O Estado de S. Paulo, que dizia que Tropa de Elite é um excelente longa de ficção, mas não faz pensar. É isso. Exatamente isso.

Apesar de ter afirmado que não senti absolutamente nada em relação ao filme, tenho que voltar atrás. Algo me incomodou imensamente: se o BOPE for, na vida real, exatamente como é mostrado em Tropa de Elite, definitivamente, somos o país da estupidez humana.

Ps: todos as minhas críticas, talvez tão rasas para alguns, não tiram os méritos do longa. A escolha do elenco foi de primeira mão. O longo e árduo trabalho de preparação dos atores merecem todo o nosso respeito. A coragem de Padilha, o documentarista muito bem-sucedido de Ônibus 174, de se arriscar na produção de um filme de ficção é invejável. Mas, infelizmente, Tropa de Elite ficou aquém das discussões que propôs.

8.10.07

das férias forçadas

(pausa na transcrição de uma, das muitas fitas de entrevistas para o tcc, só para espantar as moscas daqui...)

Há um pouco mais de uma semana, estou de férias forçadas. Depois da correria dos três últimos meses na editoria de Brasil da revista Época - e no primeiro mês conciliando o frila com o fechamento da Esquinas -, minha vida ganhou uma rotina para lá de invejável, viu?! Quer dizer, isso, é claro, se ficar de férias não fosse sinônimo de ficar sem dinheiro.

Há pouco mais de uma semana, minha única e exclusiva atividade está relacionada ao tcc (esse grande e imenso trabalho que insiste em nunca acabar). As segundas e sextas, acordo, tomo café da manhã tranqüilamente, leio o Estadão, e vou para frente do micro me dedicar às transcrições das entrevistas. As terças, quartas e quintas, vou para aula e depois volto para casa para, também, mergulhar no mundo do tcc.

Confesso que nos primeiros dias, acho que por conta do cansaço, dormi mais do que devia. Mas depois de uma bronca da mamãe, pelo telefone, recuperei a força para ficar horas com o fone de ouvido apertando, por longas horas, play e pausa mecanicamente. Das três fitas que estavam empoeiradas na estante, já foram duas. Hoje é o dia reservado para a terceira.

Depois da fase das intermináveis transcrições, é só sentar e escrever. Só, nesse caso, é muito! São 150 mil caracteres até o dia 30 de novembro de 2007. Até os mais céticos, nessa hora, pendem ajuda dos seres divinos. Diziam, e eu não acreditava muito, que o tcc pode acabar com a vida de qualquer um. Acabar, não acaba. Mas tem uma hora que cansa, sabe?! Mesmo que o tema seja pra lá de empolgante, não há ser humano que não passe, pelo menos uma vez, pelas reclamações tccísticas.

O bom, minha gente, é que está quase acabando. E isso significa que, com o final do tcc, vem também o fim da vida universitária - ah, nem quero pensar nos dissabores de ser uma recém-formada. Dou-me ao luxo de apenas catalogar os prazeres de viver sem ter na rotina as aulas no 5º andar do Paulista, 900... * suspiros *

Apesar de precisar dessas férias, ainda estou me adaptando ao fato de que sou mais uma desempregada. É um tantinho estranho não ter que sair de casa, enfrentar o trânsito da cidade, trabalhar muito e estar morta no final do dia. Não, não estou reclamando de não fazer nada, mas como me conheço, sei que logo logo vou enjoar dessa vida...

... mas enquanto isso não acontece, deixa eu voltar para minha transcrição. O tcc chama!

***

parênteses
Como o bom filho, no caso filha, à casa retorna, passados mais de 15 anos, no sábado, voltei ao Palestra Itália. Ainda éramos bem pequeninas quando papai nos levou para assistir Palmeiras e Guarani. Do jogo, só lembrava o resultado - 3 X 1 para o verdão - e do grito da torcida - "porcooooooo, porcooooooo...". Como o time não está tão mal no Campeonato Brasileiro de 2007 - depois da 30º rodada assegura o quarto lugar, com 50 pontos (só decorei porque sou namorada de alguém louco por futebol!) -, o convite para passar o final da tarde de sábado no jardim suspenso do Palestra foi irrecusável. Três palmeirenses: eu, papai e Guy conseguimos arrastar os são-paulinos Fábio e Amanda para assistir à vitória de 2 a 0 do Palmeiras em cima do Grêmio. Sim, ele foi ao Palestra. Para conferir a prova desse memorável episódio, clique aqui.

2.10.07

* primavera *