12.6.08

depois daquela noite

... o filme terminou com uma valsa sobre um noite de amor. A nossa história começou ali - naquele 17 de janeiro de 2005. E (ainda bem) foi além daquela única noite.

'A Waltz For a Night', Julie Delpy em 'Antes do Pôr-do-Sol' (2004)

2.6.08

quando a lembrança se desfaz

Quando ainda era bem pequenininha coloquei um item especial na minha lista de coisas para fazer durante a vida: conhecer, sentir e viver o amor. Aquele em estado mais puro, simples e belo. Queria seguir os passos da vó Luiza e do vô Abrahão, que foram além das definições do dicionário... Pessoas como eles são raras. Sempre acreditei que são poucos os que sabem, realmente, qual é o verdadeiro significado do verbo amar - aquele que vai muito além do "demonstrar amor a; sentir grande afeição, ternura ou paixão por", como consta Houaiss...

... ontem as lágrimas escorreram do começo ao fim. Previsível, para ele que me conhece tão bem. Logo nas primeiras cenas de Longe Dela, o primeiro filme da canadense Sarah Polley, lembrei-me da história de amor que acompanhei durante alguns anos - e que me servirá de inspiração para toda a vida. Delicado e emocionante. Foram as primeiras palavras nas quais pensei para definir a obra de Sarah. Mas palavras não são as protagonistas. O silêncio, ele sim, é o grande ator. Ele nos deixa sem chão - e com a sensação de um vazio sem fim, que nem o choro pode abafar.

Julie Christie e Gordon Pinsent moram na província de Ontário, no Canadá, e interpretam um casal de uma história sobre amor, companheirismo e solidão. Ela é Fiona. Ele, Grant. Estão juntos desde os tempos da faculdade - "em 44 anos, não passaram um único mês separados". Mas os sinais do mal de Alzheimer começam a se revelar em Fiona - a internação em uma clínica deixará Grant longe dela pela primeira vez. Mas só durante o período de adaptação. Grant nos apresenta, então, o amor - aquele que consta em minha lista.

Mesmo sabendo que Fiona já não o reconhece, ele está lá. Grant poderia ter ido. Para sempre. Mas está lá. Diariamente. Acompanha todos os caminhos de Fiona - mesmo sabendo que eles a levam para um mundo bem distante daquele que eles viviam. As lembranças se desfazem, e Fiona se apaixona por um outro homem, Aubrey, também internado. Grant, a esta altura, é um estranho - um alguém que passeia pela clínica todos os dias.

Grant não desiste. Persistente e incansável, continua a observar a sua menina, mesmo sabendo que os laços que os juntaram não são mais palpáveis como antes. Ele, talvez, tenha entendido que nada apagará o que viveram. Ama - não por obrigação. Simplesmente ama. Fiona será para sempre sua. E ele será sempre dela...