21.7.07

de uma angústia sem fim

"Antes de embarcar, o casal Lisiane e Sandro tirou um retrato e o deixou com o filho Roger. "Vovó, ainda bem que eu tenho a foto. Quando eu tiver saudades, dou um beijo nela", diz o menino, de 5 anos. Roger nunca mais será beijado pelos pais. Eles estavam entre as 186 pessoas a bordo do vôo 3054, da TAM". Esse é um trecho do parágrafo que abre a reportagem Quantos mais precisam morrer?, capa dessa semana da revista Época.

Terça-feira, dezessete de julho de dois mil e sete. Por causa do congestionamento na avenida Paulista, ligo o rádio só para não ficar entediada. Não quis ouvir música. Sintonizei nos 90,5 - na rádio CBN. Como diariamente acontece nos finais de tarde, a principal notícia sobre a capital paulista é o trânsito da cidade. Do helicóptero, a repórter dizia quais eram os melhores e piores caminhos para os ouvintes que saíam do trabalho.

Próximo à avenida Washington Luís, a repórter avista um incêndio. As primeiras informações são imprecisas. Era um depósito de cargas da TAM? Um posto de gasolina? Foram quase vinte minutos de apreensão - e a confirmação de que um avião com mais de 180 passageiros não conseguiu parar em Congonhas deixou aquele começo de noite mais triste.

A primeira reação: ligar para ele só para saber se estava tudo bem. Estava - alívio! Mas o nó na garganta não foi embora. Não conseguia parar de pensar naquelas pessoas, no que elas sentiram, nas famílias desesperadas esperando a confirmação da lista de passageiros, nos bombeiros que não conseguiam apagar o fogo, na tristeza que não teria fim...

... a noite não foi nada boa. Queria dormir, mas todas as imagens insistiam, insistiam, insistiam... Na quarta de manhã, o Estadão não estava na porta. Uma mensagem eletrônica do atendimento telefônico ao assinante dizia que o jornal atrasou por conta do acidente. Liguei a TV para acompanhar as notícias mais recentes - era ruim ver todo aquele sofrimento, mas não podia deixar de saber como estavam as buscas...

Na redação, impossível me concentrar. A movimentação dos repórteres tinha toda a minha atenção. Por volta do meio-dia, eu, a Larissa e o Rodrigo somos chamados na sala de reunião. "Precisamos de ajuda na apuração. Temos que falar com os parentes das vítimas. Vocês topam?". O "sim" que mudou o resto do dia.

A lista com os nomes de todas as vítimas chega em nossas mãos. Precisávamos saber as histórias daquelas pessoas que vinham de Porto Alegre. Para facilitar o trabalho, 102 gaúcho e paulista. Tento o primeiro. O telefone toca duas vezes. Com uma voz de choro, uma menina atende. "Com quem eu falo?". Ela responde. "Sou repórter da Época, e estou fazendo uma reportagem sobre as vítimas do acidente. Você pode falar comigo?". Ela diz que não tem condições. Ela perdeu o pai. Desligo - e me dou conta de que seria um longo dia.

Foram mais dezenas de tentativas. Poucos conseguiam falar. Da primeira, pulo para a última folha. Descubro que o casal Schubert era dono de uma ótica na cidade de Ijuí, no interior do Rio Grande do Sul. Pelo 102, consigo o telefone de uma afilhada do casal - ela me passa o contato da Dona Lídia (a mãe que perdera o filho e a nora. A avó que não sabia como contar a Roger, de 5 anos, que os pais não voltariam mais para casa).

Foi muito complicado segurar as lágrimas. Dona Lídia, apesar de muito abalada, parecia forte. Contou-me que o filho Sandro sempre foi seu braço direito - e que vinha para São Paulo, ao lado da mulher Lisiane, participar de um congresso de óticos. Roger estava esperando a ligação do pai que prometeu ligar só para falar um "oi".

Às 22h, as repórteres que estavam em Congonhas voltam para a redação. Uma reunião para decidir o que entraria na reportagem. Tudo teria que estar pronto antes das 9h de quarta-feira (o fechamento da revista foi antecipado). Voltamos para os computadores para escrevermos as histórias de algumas daquelas pessoas. Foram mais de 12 horas dentro da redação. Aquele nó na garganta ficou mais intenso quando entrei no táxi. Já passava da meia-noite e meia quando entrei em casa. Algumas lágrimas escorreram, mas ainda precisava desabafar. Quando o telefone tocou, e ele disse "alô", desabei - depois de uma longa conversa, estava mais tranqüila. Apesar das poucas horas de sono, consegui dormi.

Cheguei na redação às 8h30. Ligo para Dona Lídia de novo - ela estava se preparando para contar ao Roger que os pais estavam no hospital. "Vamos contar que os pais estão mal e que a Dinda [Cibele, irmã de Sandro] foi para São Paulo cuidar deles". A forte Dona Lídia deixa as lágrimas escaparem. Eu, do outro lado da linha, falo que vai ficar tudo bem. Na despedida, mando um beijo e peço para ela ser forte e dar um beijo no Roger.

Dali em diante, não falaria com mais ninguém. Já sabia as histórias de quase todas as pessoas do vôo 3054 - era como se elas fossem parte de minha vida também. Os sorrisos daquelas fotografias não seriam mais clicados... por aqui, uma angústia que não quer passar, e uma vergonha de morar num país em que as autoridades não assumem responsabilidades e debocham da dor de toda uma nação. Lamentável.

15.7.07

atualizado!

Nos últimos 15 dias...

- comecei um frila na revista Época (prometo que em breve conto mais detalhes sobre as minhas visitas diárias à redação da semanal);

- teve um feriado prolongado de 9 de julho - por conta dos 75 anos da Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo - com São Paulo e Flamengo no Morumbi, "horas e horas e horas de sono + casa vazia só pra gente + filminhos +...";

- a Esquinas está quase saindo do forno. Foram dias de jornada para lá de dupla: das 9h às 16h, na Época; e das 17h às 22h, na coordenadoria em frente ao InDesing e aos milhares de prints da revista que está quase nascendo;

- começou os jogos Pan Rio 2007 - e o ilustríssimo presidente Luís Inácio Lula da Silva foi vaiado durante a cerimônia de abertura dos jogos no Maracanã. Infelizmente, não consegui assistir ao constrangimento, mas soube que foram mais de SEIS vaias (!!!!). Para os que não viram, acessem o Youtube e digitem "Lula no Pan". Vergonha alheia garantida - e eu odeio sentir isso;

- a seleção masculina de vôlei ganhou HOJE o sétimo título da Liga Mundial. O jogo contra a Rússia foi tenso, mas o Brasil venceu por 3 sets a 1 com parciais de 18 a 25, 25 a 23, 28 a 26 e 25 a 22. Além disso, o Gustavo foi eleito o melhor bloqueador da competição, e o Ricardinho o ficou com o título de melhor jogador da Liga Mundial;

... as outras novidades conto quando estiver com menos preguiça, tá?! ;)

1.7.07

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