28.2.08

coisas da natureza

Para espantar de vez o turbilhão-pós-juramento-de-jornalista, fui para o lugar que, ultimamente, tem feito parte do meu roteiro quase que diário, e me trazido aquela tão desejada, quanto necessária leveza. Saí de casa com a certeza de que a chuva viria, mas arrisquei mesmo assim. Queria dar umas pedaladas só para deixar o ventinho passar pelo meu rosto, para sentir aquele cheiro gostoso de verde e para deixar o corpo com uma sensação de bem-estar.

Do portão do meu prédio até o Parque do Ibirapuera ando, aproximadamente, 20 minutos - às vezes mais, outras menos. Depende da aceleração dos passos. Caminhei numa velocidade normal. A cada passo, mais nuvens negras formavam-se no céu. Tinha tudo planejado: chegaria ao Parque, e iria direto para a marquise. Lá, abrigada, esperaria a chuva passar.

Para o meu feliz espanto, porém, a natureza resolveu me dar um presente. Assim que passei pelo portão do Ibirapuera, o céu se abriu. Todas as nuvens escuras e tristes foram embora. Como num passe de mágica, sabem? E o Sol estava lá, brilhando intensamente. Pode parecer loucura, mas ontem senti que o Sol sorriu para mim. E eu, é claro, retribuí.

27.2.08

... a porta encostada

A porta estava encostada. Ela entrou sem pedir permissão, sem ser notada. Tomou conta de todo o espaço - como se tudo, a partir daquele momento, começasse a rodar ao seu redor. Ela é pretenciosa. Acredita que pode comandar, mandar e desmandar. Como bem entender. Chega assim. Sem avisar. Do nada, como dizem. Ela é insistente. É preciso força e coragem para enfrentá-la. Mas, acima de tudo, é indispensável ter maturidade para encará-la e, com um certo desdém, descartá-la.

Os mais suscetíveis a encontram com mais freqüência. Vira e mexe, ela aparece. Uma visita surpresa. No começo, é difícil reconhecê-la. Com o tempo, até conseguimos ignorá-la. Em certos momentos, porém - quando as indefinições estão por toda a parte -, ela atinge seu maior objetivo. Passa sua rasteira. Agora, aos 23, a conheço melhor. Se deixar, ela derruba. Sem dó, nem piedade. Encontrei-a outras vezes. Em tempos passados, em épocas de transição. Conheço suas artimanhas. Mesmo assim, sem perceber, deixei ela me pegar outra vez. De mansinho, ela conseguiu invadir. Apropriou-se de todos os sentimentos. Uma enxurrada. Um turbilhão de emoções.

Aos poucos, passa. Ela cansa. Perde a graça - quer entrar em outra casa em que a porta também esteja encostada. Mas ela deixa seus rastros. Precisamos de ajuda para jogá-los fora. Sorte daqueles, que como eu, podem contar com o aconchego de quem nos quer bem. Nem todos entendem. Poucos sabem dizer o que queremos ouvir. Raro (e especial) é aquele que abraça e conforta com cada uma de suas sempre indispensáveis palavras - e que me fazem perceber o quanto é desncessário deixar ela ocupar o meu espaço.

Ela, para os que não a conhecem, é a insegurança - que, entre tantos outros significados, é o sentimento que se refere à "falta de confiança em si mesmo, em suas próprias qualidades ou capacidades". Coincidência ou não, ela apareceu no final da noite de segunda-feira, logo depois do juramento de jornalista. Época de transição - na qual, queira ou não, é preciso encarar as coisas da vida de outra maneira. Como 'ele' disse, "é preciso leveza".

(escrever sobre esse turbilhão é uma maneira de expusá-la do sofá daqui de casa. Agora, para ela, a porta estará sempre trancada)

25.2.08

o beijo do governador

Não sou petralha, como dizem por aí, mas sou, sim, companheira. Sábado aconteceu o "1º Encontro Estadual do PPS/SP", na Assembléia Legislativa de São Paulo. O diretório paulistano do PPS promoveu o evento para reunir os pré-candidatos da legenda dos municípios do estado. Para a programação foram planejados "palestras, debates e painéis temáticos." A idéia, como consta no Blog do Partido Popular Socialista de São Paulo, era "unificar o discurso do partido, compartilhar experiências administrativas e estabelecer diretrizes de políticas públicas com a cara do PPS." E acho que o objetivo foi cumprido.

Segundo dados do Partido, mais de mil pessoas estiveram na Assembléia para participar do evento. As atividades começaram cedo, mas por motivo de força maior, chegamos com mais de duas horas de atraso - mas a tempo de participar da mesa que mais nos interessava (notem que apesar de não ser filiada como ele, entro no clima de militância. Depois passa, é claro!): "Cultura, Juventude e Lazer", que foi realizada no Auditório José Bonifácio, com a participação da vereadora Soninha Francine (PPS), pré-candidata à Prefeitura de São Paulo; do cineasta e ex-secretário estadual da Cultura, João Batista de Andrade; do deputado estadual Alex Manente (PPS), pré-candidato à Prefeitura de São Bernardo do Campo; e do vereador Dudu Terra, do PPS de São Miguel Arcanjo.

As mesas funcionam assim: cada participante expõe suas idéias, propostas, conceitos, objetivos durante os primeiros 30 minutos. Depois a platéia participa com perguntas e, com as respostas, o debate está feito. Mas, dessa vez, houve uma pequena pausa. Antes de abrirem para a manifestação do que estavam presentes, um comunicado chegou ao presidente da mesa, o deputado Alex Manente, que nos repassou da seguinte forma: "Vamos interromper o nosso debate porque o governador José Serra acaba de chegar à Assembléia e fará um pronunciamento no Auditório Franco Montoro."

Eu também não sou tucana, mas os momentos vividos durante a tarde de sábado podem colocar em risco toda a minha credibilidade. Como não poderia deixar de ser, uma muvuca se formou quando o governador entrou no corredor do Auditório. Acompanhado por várias pessoas, entre elas Roberto Freire, presidente nacional do PPS, Serra virou a maior atração do evento. Milhares de pessoas se empurravam para tentar um clique ao lado do possível candidato à presidência da República em 2010.

Superada a muvuca, Serra conseguiu entrar no Auditório Franco Montoro. Fez um rápido discurso. Não prestamos atenção em tudo, mas algumas frases de efeito ficaram gravadas: "Com absoluta certeza do PSDB não conseguiria reunir tantas pessoas para um evento como esse"; "com toda a certeza, uma candidatura como a da vereadora Soninha Francine à Prefeitura de São Paulo ajuda a qualificar o processo eleitoral e o debate sobre a cidade"; e "estaremos juntos em 2008 e 2010" (na última frase uma clara demonstração de que, sim, Serra brigará pelo Palácio do Planalto).

O pronunciamento durou menos de dez minutos. Como dois tietes, decidimos que queríamos uma foto do governador. Na verdade, eu não fazia tanta questão, mas já que estávamos ali, não custava nada tentar, né? Foi aí que começou a saga. Como aconteceu quando chegou, Serra também saiu rodeado de pessoas. Militantes, fãs e assessores cercavam o governador. Com a máquina fotográfica na mão, entramos na muvuca. O objetivo: parar ao lado do governador e dizer "xis"!

Foi uma das coisas mais engraçadas que já vivi. Várias pessoas me empurravam, pisavam no meu pé, e o Fábio gritava atrás de mim: "Vai, vai!". TODOS conseguiram o tal clique, menos nós. Decidi apelar. Gritei: "Freire, Freire, Freireeee" - dirigindo-me ao presidente nacional do PPS, que também acompanhava o governador. Ele olhou para trás, e eu tentei mostrar que queria uma foto. Ele, com sotaque nordestino, falou: "venha para frente". Não sei como, mas conseguimos parar na frente de José Serra. O Fábio se posicionou ao lado do governador. E quando eu estava pronta para dar o clique, Freire falou: "Vá pra lá você também!". E fui.

Alguém, que não sei quem, pegou a nossa máquina e registrou, para toda a eternidade, aquele momento: Fábio, Serra e Thais, nessa ordem. Acho que conseguimos falar obrigada. Mas não sei por qual motivo, o governador quis mostrar seu jeito carinhoso e, com toda sua delicadeza (aqui estou sendo irônica, ok?), deu um beijo estalado na minha bochecha direita. Não sei bem, mas acho que fiz uma cara de "não entendi!"...

... e quando a ficha caiu, eu e o meu namorado militante, estávamos chorando de tanto rir. E o beijo do governador entrou para a história. =)

18.2.08

a casa do Tom

"Esse negócio de entender de uma coisa, tem que amar.
Quando você ama,
Isso cria uma capacidade,
Você se interessa pela coisa,
Você começa a olhar"

Foto: Ana Lontra Jobim

Com a filha Maria Luiza gravando 'Samba de Maria Luiza'

... e só alguém que me entende e me conhece (muito bem) poderia ter escolhido um presente tão especial. Minha pequena coleção de dvds ficou um tantinho maior no final de semana. Chegou A Casa do Tom - Mundo, Monde, Mondo. Um filme de Ana Jobim sobre "fragmentos, memórias, registros de Antonio Carlos Jobim". Um filme-documentário com ares de filme-caseiro.

Tom continua sendo o mestre Jobim, mas nos parece mais íntimo. Conhecemos seus lares, os seus templos. Tom "tinha casas nas cidades e nos lugares onde se sentia bem: Poço Fundo, Rio de Janeiro e Nova York. Em casa, protegido e livre para criar." Com a narração de Ana, que foi casada com Tom durante 17 anos, entramos nos momentos mais saborosos vividos pelo mestre durante esses anos. Há muito verde, muita música, muitos amigos e filhos, muitas letras, cafés e poemas. Aliás, Chapadão, poema que Tom começou a escrever quando comprou o terreno para construir sua casa no alto do Jardim Botânico, é o fio condutor do filme. "A casa levou quatro anos para ficar pronta e o poema, oito”.

Durante os 58 minutos, uma delicadeza aconchegante comanda as imagens, as falas, as fotografias. Há muito carinho. É uma declaração de amor de Ana para Tom. Se ele ainda estivesse por aqui, com absoluta certeza, sentiria uma imensa vontade de viver de novo os momentos registrados. "Quando alguém visita a intimidade de um grande artista possivelmente sente diminuir a distância entre ele e o mito. Para mim é o contrário, a distância aumenta e me dá mais consciência do mito", diz Ana.

Enquanto assisti ao A Casa do Tom tive um feliz encontro com o mais puro significado da palavra amor. Simples e belo.

Para vocês, Falando de Amor, com Tom Jobim e Banda Nova, em Montreal (1986):

13.2.08

dias de verão

Foto: Tayon Stefan
... enquanto os dias tumultuados não voltam a fazer parte da minha rotina, aproveito as coisas boas da vida. Depois de uma semana inteira curtindo o delicioso carnaval de Ubatuba, não deixei o espírito "estou de férias" ir embora. Antes das chuvaradas dos finais de tarde de São Paulo, os passeios ao ar livre são sempre excelentes opções. Hoje voltei ao Parque do Ibirapuera para relembrar como andar de bicicleta está na lista de melhores coisas da vida. Cheiro de verde, um Sol gostoso, ventinho no rosto, água gelada e várias voltas pelo parque vazio, vazio...