25.3.09

espelho

Fiz questão de dividir com os (poucos) que passam por estas gavetas uma das preciosidades da música brasileira: Espelho, de João Nogueira, na voz de seu filho Diogo Nogueira. Tive a feliz e emocionante chance de ver ao vivo, por isso recomendo. Assistam ao vídeo. É lindo. Demais.

Espelho
João Nogueira

Nascido no subúrbio nos melhores dias
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz

Eh, vida boa
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai

Num dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
E me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Eh, vida à toa
Vai no tempo vai
E eu sem ter maldade
Na inocência de criança de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai

E assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambã da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já

Eh, vida voa
Vai no tempo, vai
Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai

Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar

9.3.09

ao querido diário, nos acréscimos

Faz um tempo que as minhas gavetas não são abertas por outras mãos. No lugar dos sons, o silêncio. Com ele, a sensação cada vez mais frequente de estar diante de um diário - como aquele de capa verde claro que foi meu companheiro durante tantos anos. Ele tinha cadeado. Guardava segredos que no fundo, no fundo desejavam ser revelados para quem quisesse escutá-los.

Neste exato momento, sinto-me diante daquele diário de páginas floridas. Não estou deitada no chão, não tenho canetas coloridas em mãos. O cadeado não está aberto. Mas tenho uma imensa vontade de me abrir com as palavras...

Acho que fui injusta. Extrapolei. Deixei a emoção falar mais forte. E sinto vergonha porque foi por um motivo nada importante. Fiquei puta, confesso. Hoje, quando aos 47 minutos do segundo tempo a rede balançou, não acreditei. Tive a certeza de que uma série de reuniões foi determinante para que a estrela de Ronaldo voltasse a brilhar neste domingo. Para mim, que nunca entendi porque o humor do meu pai mudava de acordo com os resultados, o clássico em Presidente Prudente trouxe uma sensação nova. Pela primeira vez, concordei com as teorias do Pinhata.

Mas vou me redimir. Estou há algumas horas navegando pelas manchetes que trazem o gol de Ronaldo no clássico deste domingo como destaque. E todas têm razão: não há como não reconhecer que o empate teve gosto de vitória para o Fenômeno. Assim que acabou o jogo, falei que não o tinha como inspiração. Menti. Travei uma discussão. Defendi o que não parece viável. Estava de cabeça quente.

E agora, depois de ler centenas de reportagens que falam da emoção do Fenômeno, perdi alguns dos meus argumentos. Ele não tem culpa. Pelo contrário. Merece respeito por ser quem é, por ter construído o que construiu. Não entro nas questões pessoais - afinal, gosto não se discute. E agora, de cabeça fria - quem diria que um dia eu ficaria de cabeça quente por causa de um jogo?! Se eu contar, ninguém acredita! - reconheço que qualquer pessoa, seja ela quem for, merece respeito e admiração quando consegue ir além. E Ronaldo foi. Não pela primeira, mas pela terceira vez.

É claro que ainda mantenho algumas posições para lá de intocáveis. Estaria muito mais feliz (muito mesmo) se o Douglas tivesse passado para Ronaldo marcar em Itumbiara. Óbvio, né? Mas reconheço também que não seria tão brilhante, nem tão espetacular. Mas já que decidi me abrir, vou abusar um pouquinho mais das palavras: o que me incomodou não foi o gol. Não mesmo. Todos dizem que a defesa do Palmeiras é uma merda (perdão pela palavra chula). Como não entendo nada disso, acredito e ponto. O que pegou de verdade, de verdade mesmo, foi o fuzuê. Mas agora tenho que baixar ainda mais a cabeça e me curvar à realidade: não tinha como ser diferente. Afinal, era o que todo mundo esperava. Mas, cá entre nós, o Palmeiras precisa de um banho de ervas, né?

O fato é que fiquei meio chocada com a reação daqueles que comandavam as transmissões diante do cartão amarelo recebido pelo Ronaldo. Meu pai acompanhou o jogo pela Globlo. O Cléber e o Arnaldo levantaram a bandeira da indignação quando o juiz puniu o "Nazário dos Campos" por ele ter subido (e destruído) o alambrado. Se existe regra, por mais cretina que seja, ela deve ser cumprida. Se vale para um, vale para todos, não? E o próprio Ronaldo reconheceu que não foi muito feliz em sua comemoração...

... querido diário, acho que meu desabafo termina por aqui. Vez ou outra, sou assim: faço, falo e só depois penso. E como não poderia deixar de ser, me arrependo. Sei que parece, mas não quero me colocar como vítima. Mesmo sendo torcedora do time do Palestra Itália, estou realmente constrangida por não ter me rendido à emoção de Ronaldo. Mas ainda bem que existem os acréscimos. O Fenômeno que o diga, né?

Não tem jeito. Mesmo que eu tentar, nunca serei tão insensível quanto pareci na tarde deste domingo. Melhor assim.

6.3.09

um ritmo, um pacto e o resto rio afora


dias mais que azuis. o corpo no saculejo do mar. pele e cor de sol quente e intenso. um ritmo, um pacto. música para alimentar e acalmar a alma. nada mais. ninguém mais. se é para seguir, é nessa vida que meus passos querem estar.