29.10.06

número errado

Acabo de chegar da seção 314 da zona eleitoral 005. Nunca antes numa eleição senti-me tão mal por estar diante da urna eletrônica. Por pouco, muito pouco mesmo, uma lágrima não caiu quando apertei (o verde) CONFIRMA depois de ter escolhido o "número errado".

Não sei ao certo o que senti. Mas, com absoluta certeza, foi algo que muito lembrava a sensação de impotência. Pela primeira vez, não acreditei numa possível mudança e, por isso, não optei pelo "menos ruim", como dizem e pregam por aí. Pela primeira vez, a certeza de que qualquer uma das opções (idênticas, por sinal) não conseguiriam fazer um Brasil melhor. A certeza de que não seria representada tanto pelo 13, quanto pelo 45, me fez apertar 99 .

Ainda não sei ao certo quais serão as conseqüências de anular um voto. Mas, antes de sair para votar - ou melhor, para anular - recebi um texto por email que talvez explique o que também pensei desde o dia primeiro de outubro de 2006. O texto é intitulado Hoje é dia de votar e foi postado hoje, dia 29/10/2006, por Juca Kfouri em seu blog. Ele também anulou e, nesse trecho, posso dizer que faço minhas as palavras que por ele foram escritas: "(...) Mas não acho que anular o voto seja alienação ou uma maneira de ser cúmplice com o que está aí. Ao contrário. Penso que é exatamente uma forma de não ser cúmplice e de protestar contra a geléia geral que transformou todos em tão iguais. Não acredito, definitivamente, que os fins justificam os meios. Acredito, piamente, que meios ruins levam a fins ainda piores (...)."

Foram menos de dez segundos entre apertar 99, ouvir o trimm e aparecer o FIM na tela da urna. Foram menos de dez segundos para saber que, mesmo tendo 21 anos, perdi aquele entusiasmo da juventude que acredita em mudanças para um país melhor. Mesmo tão descrente, não escolher uma das opções não é, como também escreveu Juca Kfouri, um "sinal de desistência. Ao contrário, outra vez".

26.10.06

A convite da Jazz Sinfônica

Vinte e cinco de outubro, 21h, um encontro especial. Pela primeira vez, os olhos e os ouvidos seriam apresentados à Orquestra Jazz Sinfônica. Encanto e emoção regidos por Cyro Pereira e João Maurício Galinto. Mais setenta musicistas, esbanjando talento, foram responsáveis pelas deliciosas sensações de bem-estar.

Violinos, Violas, Violoncelos, Contrabaixos, Flautas, Fogote, Oboé, Clarinetes, Trompas, Trompetes, Trombone, Tuba, Saxofones, Piano, Guitarra, Baixo Elétrico, Bateria, Percussão e Timpanos acompanhados pelo convidado da noite: David Liebman, "instrumentista versátil" - como diz o texto do folheto da apresentação.

Imperceptivelmente, os pensamentos sumiram - já que era tamanha a concentração. Gestos e sons hipnotizaram e tornaram mais leve o ar do Auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina. Uma sensação que há tempos não batia e a certeza de que é possível deixar a mente e o corpo livres para escolherem seus caminhos - ontem, eles foram comandados simples e essencialmente, pelas mãos de João Maurício Galinto.

Conduzidos, os ouvidos eram capazes de captar os sons como se nada mais existisse naquela imensa apresentação. Era possível sentir - cada qual em seu momento - as flautas provocarem um arrepio aconchegante, a percussão causar um êxtase incontrolável, os violinos alimentarem o espírito com vibrações singulares. Era possível ouvi-los juntos - como de fato é esperado - e, simultaneamente, um de cada vez. Existia, por diversas vezes, a sensação de que os instrumentos já não estavam acompanhados uns dos outros. Algo que só possível quando a música encontra o ponto exato da alma, algo que só possível quando o corpo está livre de quaisquer manifestações que não correspondam à intensidade daqueles movimentos.

Um presente para lá de emocionante. Uma apresentação histórica, é verdade: "esta é sua [de David Liebman] segunda aparição no Brasil - a primeira foi em 2002 - e é muito especial por ser sua primeira atuação com uma orquestra latino-americana e pela preciosidade musical escolhida, calcado no afeto que nutriu, por algumas décadas, seu trabalho com o gênio Miles Davis".

Em 1970, David Liebman recebeu o convite para tocar na banda do grande nome do jazz Miles Davis. A parceria resultou em trabalhos reverenciados por todo o mundo e, por esse motivo, a convite da Orquestra Jazz Sinfônica, Liebman - saxofonista, pianista, compositor e genuíno representante do jazz nova-iorquino - veio ao Brasil para homenagear seu mestre Davis.

Nossos sinceros e emocionados agradecimentos.

25.10.06

Dias e dias de quê?

Impossível não permitir a emoção tomar conta do corpo, não deixar um sorriso ser aberto espontaneamente, não ter um brilho intenso nos olhos, não sentir os pêlos dos braços arrepiarem... Impossível não se emocionar com as palavrinhas de agradecimento - mesmo que exageradas...

Lembro-me do dia em que a idéia surgiu. Com certeza, a melhor. As outras estavam fora de cogitação, concordamos. Lembro-me também dos títulos, mais precisamente, das palavras que nunca se encaixavam. Dias e dias de quê? Nada poderia defini-lo inteiramente. Para a escolha oficial: algo simples e extremamente belo.

As pesquisas, os primeiros contatos, as primeiras entrevistas - e um certo problema em aprender a lidar com o gravador. Para ser bem clichê: como num filme, todas as cenas voltam (e nitidamente). O começo, como era de se esperar, foi mais complicado. Fazer com que as primeiras palavras fossem escritas foi um tantinho doloroso - por aqui, quando isso acontece, dizemos travamos. Normal, sabíamos. A insegurança insistia em se apresentar, mas a vontade e a dedicação eram superiores. Não queríamos falar só para não parecer bajulação, mas existia a pontinha de certeza de que ele daria conta. E deu.

Hoje, dia 25 de outubro de 2006, a entrega. O primeiro passo para o fim de mais um ciclo. Um orgulho danado por saber que, mesmo de longe, pude estar perto e ajudar um pouquinho - é importante ressaltar, não tanto como ele escreveu. Um ano para ficar guardado como o de grandes aprendizados e de algumas certezas indestrutíves que nem precisam ser ditas ou escritas.

Ele sabe que, no tão aguardado dia, num momento de tensão, encontrará um sorriso quando precisar de uma forcinha.

23.10.06

as gotinhas de paz e um ritmo muito caliente

As gotinhas de paz já fazem efeito. Um simpático e bem humorado velinho disse que são vinte para dois dedinhos de água. Há um ritual - é preciso acreditar também. Foi assim, é assim e será assim. A mente tranqüila comanda melhores ações. O coração em paz sabe que tudo foi muito especial. Nada poderia ter sido diferente. Não existem aquelas fórmulas matemáticas e explicações racionais que tanto desejamos. Ter a certeza de que não existirá mais dor é o melhor que poderia ter acontecido naquela quinta-feira. Na caixa, só há espaço para o que foi bom.

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Eles dizem que a salsa alimenta a alma e dá ritmo à vida. O clima era essencialmente latino-americano. Che também acreditaria que aquele era um cantinho de Cuba. Os olhos e rebolados deixaram a fria e chuvosa noite paulistana um tanto caliente. Difícil é deixar o quadril quebrar como os deles, mas sempre tem alguém muito disposto a ter paciência para nos ensinar - quer dizer, para tentar nos ensinar a bailar como eles. Impossível ficar parado com tantos corpos naquele pequeno espaço. Para não passar vergonha, o cantinho perto do bar era sempre a melhor opção. Mas existe um quê de sangue latino que nos impede de ficar parado. Depois da aula com passos de salsa e merengue, a pista é o desafio para os amantes da música. As letras são cantadas com o mesmo êxtase que comanda os passos dos casais entregues à salsa cubaine. O sotaque de nossos vizinhos encanta. A felicidade e alegria são contagiantes. Depois de tantas tentativas, o corpo finge saber dançar. As horas passaram mais rápido e a sensação de que, latina ou não, a música alimenta a alma. E não existe explicação racional para isso.

15.10.06

de mudança




Estou de mudança. Ela está planejada há um tempão, mas ainda não existia coragem sufieciente para encará-la. talvez seja um bom lugar para começar o novo ciclo. Para deixar registrado: isso só é possível porque a esperança veceu o medo.

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Já passava das 22h do dia 13 de outubro. Os conheci em Vila Isabel, numa casa aconchegante - como as que fazem parte de minha imaginação. Vinis, livros, cds, instrumentos musicias, cientistas sociais e músicos. Todos na casa 3. A passagem por ali foi rápida porque o nosso destino era Santa Teresa - o samba e uma noite muito agradável nos esperavam. Os paralelepípedos e os trilhos do bonde tornaram a subida um tantinho mais emocionante, mas as risadas cariocas do banco de trás trouxeram a sensação de que eles marcariam um dos melhores momentos da curta estadia na cidade maravilhosa. E assim foi.

Em um dos botecos daquele charmoso bairro, duas mesas nos esperavam. Chegamos no intervalo entre o set 1 e o set 2. Longe da Zona Sul, mas bem perto da bossa de Copacabana. Além dos sambas da Lapa de Noel Rosa, os cantos de Vinícius também estavam na trilha daquela madrugada. A roda acabou com uma vontade de quero mais.

Na descida, o Bar do Mineiro estava na programação. O carro seria estacionado em cima da calçada. Foi difícil, mas ela conseguiu. Os pastéis (no plural, como eles dizem) de feijão nos esperavam, mas ninguém nos avisou que o dono não permitiria que as cadeiras voltassem para o chão. Resultado: descemos sem conhecer o famoso pastel. Tudo bem. Fica para próxima (que será em breve).

Uma canja só para ter a certeza de que é a melhor escolha:

Eu Sou o Samba

Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros
Salve o samba, queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo de um país
Salve o samba, queremos samba

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Você é muito especial. Já não me imagino sem as suas composições. Obrigada por estar por aqui e me levar por aí. Te amo!

9.10.06

os pedacinhos

procurando ajuda para juntar os cacos...

7.10.06

e as surpresas

Sexta-feira, 06 de outubro de 2006. Mais surpresas! Por volta das 18h, o editor pediu que fechássemos os olhos e estendêssemos uma de nossas mãos. Assim fizemos. Ele disse: "algo que eu já tinha prometido para vocês há um tempo, mas só consegui trazer hoje". Nas minhas mãos, Ricardo Kotscho, nas dela, Mia Couto. Agora, Do golpe ao planalto também faz parte da minha biblioteca. Obrigada, editor!

"É uma ótima petição de princípios". Esse foi o recado que ele deixou no meu texto sobre o fidalgo de La Mancha.

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Quinta-feira, 05 de outubro de 2006. A sessão começou às 15h05 na Reserva Cultural. Vale pela trilha, vale pela sensacional Meryl Streep e, como disse uma grande amiga, vale pelas roupas. Não li o livro, por isso assisti ao O diabo veste Prada sem qualquer roteiro em mente. Não sabia a história - e, talvez por isso, tenha gostado tanto. Saí com a sensação de que eu também me entregaria ao trabalho como faz Andrea Sachs (Anne Hathaway), mas não teria tanta vocação para o mundo do glamour e da moda - no teste do salto alto, não passaria da primeira prova. Fazia um tempo em que não saía leve do cinema (cantarolando Vogue quase como Madonna).

Já que estava lá, entrei na sessão de Eu me lembro, uma produção nacional de Edgar Navarro. A sinopse do drama diz: "Ainda criança, Guiga descobre a sexualidade ao lado mãe; com o pai eustero e puritano, vive conflitos. A transformação do garoto virá com a morte da mãe, quando ele cresce nutrindo raiva pelo pai, ao mesmo tempo em que descobre a literatura, o cinema e a política", mas eu diria que Eu me lembro nos deixa bem pertinho das coisas simples e belas daquele Nordeste. Por causas daquelas cantigas, Eu também me lembrei da vovó (se estiver com sono, escolha outro filme. Eu dei uma dormidinha!)

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Às pessoas queridas, meu muito obrigada! Nada seria de mim sem vocês... de verdade.

4.10.06

um gole de carinho

Adoro surpresas. Cheguei em casa já passava das 23h. Cansada e querendo um banho, como sempre. Mas, dessa vez, algo pro dia terminar feliz. Na portaria, à minha espera, um gole de carinho e o cartão para provar que ela lembrou de mim.

"... um gole de carinho pro dia nascer feliz ..."

As músicas que nos emocionaram vieram nas fitinhas. Ela soube escolher as frases perfeitas.
Fiquei emocionada.

Lindo! O coração está feliz por ter certeza de que nosso vínculo é para sempre e por saber que ela sempre está por perto - mesmo que não seja como antes.

Também te adoro! Só me resta dizer Obrigada, Thá!

Os motivos são evidentes

O meu único protesto é contra a reeleição. E só!

3.10.06

Por algo sutentável


Está provado: nada como a prática para nos darmos conta de que, apesar de estarmos na reta final da faculdade, temos - ainda bem! - um longo caminho a percorrer. O por quê disso? Explico: passei o final de semana em apuração. O dead-line (como é chamado o nosso prazo final) era ontem, dia 02.09, às 17h. Estava certa de que, mesmo tendo pouquíssimo tempo, eu faria o possível para ter 3000 caracteres prontos até o prazo estipulado.

A primeira ligação foi no sábado de manhã. Campinas: ddd e alguns centavos a mais na conta de telefone. Surgiram as informações necessárias para que eu passasse o resto do dia ao telefone e em frente ao micro. Foram mais dezenas de ligações. O sábado terminou tarde e o domingo começou cedo - mais três entrevistas estavam marcadas para o dia da eleição. A estratégia foi acordar antes das 8h. A primeira ligação foi para o Rio de Janeiro. Meia hora de conversa (e, sinceramente, não quero ver a conta da Telefônica no final do mês).

Pausa na apuração para ler os jornais que traziam as eleições como destaque. Depois de, rapidamente, dar conta dos afazeres domésticos, saio para votar. Foram menos de 30 segundos em frente a urna. O trimmmmm e o FIM da tela me mandariam de volta à agitação do resto do dia! (ainda bem que papai estava bem disposto e concordou em me levar à Granja Julieta e à Vila Madalena). No final do dia, depois de tudo apurado, começo a organizar as idéias - mas não podia deixar de acompanhar o resultado das eleições - para isso, contei com as informações que chegavam por email.

Passava da meia-noite e meia. O corpo já não respondia com tanto vigor. Era o sinal de que precisava dormir e que o dia seguinte seria de muito trabalho. Assim foi. Das 8h às 17h em frente ao computador organizando, selecionando e tentando escrever algo que pudesse mostrar como foi a apuração. O texto não ficou, nem de longe, como poderia ter ficado. Mas valeu: pelo aprendizado e pela certeza de que é muito bacana fazer algo que nos dá prazer.

Para os curiosos: a pauta geral era desenvolvimento sustentável / meio ambiente. Depois conto em off o assunto que por mim foi abordado!

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Vem o segundo turno e já começo a me questionar sobre qual decisão tomar diante da urna no dia 29 de outubro. Apesar de não concordar com o voto nulo, essa possibilidade não está totalmente descartada. Mas ainda tenho alguns dias para saber o que farei.

Dos cinco, três que receberam o meu voto foram eleitos: Suplicy, Ivan Valente e Carlos Giannazzi. Mas, por conta da cláusula de barreira, ser eleito não quer dizer ter direito à representatividade na Câmara. O PSOL não atingiu os números determinados pela cláusula. Infelizmente. E, como disseram, 2006 provou que, se de fato quiser existir, a esquerda precisa se reorganizar. Enquanto isso não acontece, acompanharemos a volta do estilo paz e amor em debate com um jeito chuchu de ser.