26.5.08

os (novos) erros ortográficos

Na semana passada, durante a viagem para um final-de-semana mais que esperado e desejado, o Fábio me contou sobre a aprovação pelo Parlamento de Portugal do acordo que unifica a ortografia em todos os países de língua portuguesa, que já tinha sido aprovada pelo Brasil. Hoje de manhã, durante o meu reecontro com a leitura demorada do Estadão, deparei-me com o editorial "O acordo ortográfico". Para a minha surpresa, O Estado de S. Paulo, "um jornal conservador", como dizem por aí, apóia a reforma, que de acordo com as palavras impressas na edição deste dia 26 de maio, "vai finalmente tornar-se realidade".

A proposta da reforma foi apresentada em 1990, mas só agora, Portugal, o país matriz da língua, aprovou as mudanças - por ampla maioria de 230 votos a 3. Até julho de 2004, era preciso que todos os países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ratificassem as novas normas. Um acordo feito nessa data estabeleceu que bastaria a ratificação por parte de três países. Em 1995, o Brasil efetivou sua ratificação, seguido de Cabo Verde, em fevereiro de 2006, e São Tomé e Príncipe, em dezembro daquele mesmo ano.

O acordo pretende fazer com que pouco mais de 210 milhões de pessoas dos oito países que falam português tenham a escrita unificada, conservando as variadas pronúncias. A CPLP é composta por Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. As novas regras não entram em vigor imediatamente. De acordo com o editoral de O Estado de S. Paulo, "em Portugal isso acontecerá dentro de um período de adaptação de seis anos, e no Brasil, em três anos, a contar de 1º de janeiro de 2009."

Para os que apóiam o acordo, as mudanças são quase insignificante. No Brasil, a norma escrita terá 0,43% de suas palavras mudadas - Portugal terá 1,42%. Mas, para mim, isso é mais do que necessário para provocar uma grande revolução. Ainda não consegui aceitar os motivos do acordo - que, pelo o que entendi, são muito mais político-econômicos do que qualquer outra coisa. (Talvez só eu não tenha "sacado" isso, mas ok.). O editorial do Estadão, que pode ser lido na íntegra aqui, deixa claro que "o acordo é na verdade mais importante do ponto de vista político - e também do dos negócios - do que do lingüístico, embora este tenha provocado mais barulho. Ele deve permitir o fortalecimento dos países de língua portuguesa nos organismos internacionais. Não por acaso, um dos principais argumentos utilizados pelos defensores do acordo foi justamente o de facilitar a redação de documentos internacionais em português. É evidente que grafias diferentes dificultam a aceitação de tratados e acordos, que com elas não podem conviver, pois tanto quanto possível têm de evitar imprecisões e ambigüidades."

Confesso que, mesmo assim, ainda não consegui aceitar que, daqui a três anos, escrever idéia com acento agudo no e estará errado. Acho que o período de adaptação é pouco - acredito que levarei muitos mais anos para assinar o acordo de paz com as novas regras. Aliás, até hoje, quando resolvi escrever sobre a reforma ortográfica, não tinha dado muita importância às mudanças, que estão muito bem explicadinhas numa reportagem do FolhaOnline, e que eu reproduzo aqui:

HÍFEN
Não se usará mais:

1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"

TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)

ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"

ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem

GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"
2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"

Será que nos acostumaremos? Só o tempo e os (novos) erros dirão...

19.5.08

dias tão azuis

O Barquinho
Roberto menescal/Ronaldo Boscoli
Dia de luz, festa de sol. E o barquinho a deslizar. No macio azul do mar. Tudo é verão, o amor se faz. Num barquinho pelo mar. Desliza sem parar... Sem intenção, nossa canção. Vai saindo desse mar e o sol. Beija o barco e luz. Dias tão azuis. Beija o barco e luz. Dias tão azuis. Volta do mar, desmaia o sol. E o barquinho a deslizar. E a vontade é de cantar. Céu tão azul, ilhas do sul. O barquinho é o coração. Deslizando na canção. Tudo isso é paz, tudo isso traz. Uma calma de verão. E então. O barquinho vai, a tardinha cai. O barquinho vai, a tardinha cai...
Desde ontem, quando o silêncio do vento e o deslizar do mar eram as nossas únicas companhias nas areias do Lázaro, O Barquinho não sai da minha cabeça. A trilha mais que perfeita para um final-de-semana mais que esperado e desejado. É por causa de momentos como os que vivemos entre sábado e hoje que continuo acreditando que tudo pode ser melhor do que a gente realmente imagina. E mais: que, definitivamente, são nas coisas mais simples que encontramos o que há de mais belo e apaixonante.
Não precisamos de muito. Um céu azul, um Sol gostoso, o silêncio, a areia, o mar e a certeza de que ao olhar para o lado nos encontraremos. Dias como esses nos fazem bem. Nos deixam mais leves do que aquelas folhas de Outono que balançam pelo ar. Não precisamos de muito. Pãezinhos quentes, frutinhas, suco e conversas gostosas de bom dia no café da manhã. Não precisamos de muito. Quando a tardinha começa a cair, a calma contagia o corpo e a mente. Temos os mesmos planos: com o friozinho da noite que se aproxima, só pensamos no aconchego - dos abraços, das conversas e dos cobertores. Dias como esses me fazem pensar em como é bom ser feliz. Não precisamos de muito. Só dessas coisas simples e apaixonantes... A felicidade, o sorriso, a leveza, e a trilha sonora nem precisam ser pedidos... Eles estão lá, em dias como esses, a nossa espera.

15.5.08

das inspirações *

Quase ninguém acredita, mas 'sofro' para escrever. Ontem, aliás, durante o passeio-reencontro para lá de agradável, eu e o João falamos sobre a nossa relação com as palavras. Ele é uma daquelas pessoas admiráveis, sobre as quais escrevi dia desses. As palavras e o João formam um lindo casal. Sempre me inspirei nos escritos dele. Ontem reafirmei o que já tinha dito no final do ano passado: se não fosse por conta dessa bonita relação que ele tem com cada uma das palavras, nosso livrinho não teria merecido o elogio de "muito bem escrito". Ele não acreditou...

O João, assim como o Fábio, a Lui, a Ju, a Dri são pessoas que parecem ter conhecido as palavras antes mesmo de elas (as palavras) terem sido apresentadas ao mundo. Quando crianças, não brincavam de carrinho ou de boneca. Queriam ler e escrever. Juntar as sílabas, eu imagino, deveria ser a maior diversão para os pequeninos. Sorte a nossa - porque é uma delícia encontrar texto de pessoas que sabem o que fazer com as palavras. Eu, por exemplo, mesmo quando estou aqui - escrevendo algo tão despretensioso para o blog - travo. Até que as idéias se transformem em frases completas, alguns minutos se passam em branco.

E por quê? Eu conheci o mundo das letras há pouco tempo. Antes de entrar na faculdade, não tinha o hábito de ler. Sim, pode parecer contraditório alguém prestar vestibular para o curso de jornalismo sem ter na rotina algumas horas reservadas para um encontro com os livros, jornais ou revista. Durante os anos de colégio público, nunca fui incentivada a estudar, a ler. E mais: eu acredito que o ato de ler é um hábito que se adquire em casa. Por mais que ler e escrever estejam diretamente ligados aos anos escolares, sabemos que é na casa em que moramos quando crianças que construímos parte de tudo que seremos na vida adulta. Eu não cresci no meio de livros. Aliás, os brinquedos também passaram longe da minha infância (mas esse é assunto para um outro post). Senti (e ainda sinto) as conseqüências desse não hábito na vida adulta. Mas ainda bem que uma das milhares de coisinhas boas que conquistei quando conheci o Fábio foi a paixão pela leitura diária do jornal. Hoje, quando não passo minhas manhãs folheando as páginas do Estadão, sinto que parei no tempo...

Não, não esperem que eu escreva agora que uma de minhas reportagens foi publicada com vários erros, que fui mandada embora por conta disso, e que estou desistindo do jornalismo (isso até que é verdade, mas as palavras, nesse caso, são as últimas que eu culparia). Tudo isso é só para justificar a minha ausência. As postagens ficaram cada vez menos freqüentes. Como escrever, para mim, é quase um ritual, preciso de tempo - o que me faltou nos últimos 30 dias. O frila, que terminou na sexta-feira, conseguiu consumir toda e qualquer energia que o meu corpo conquistou durante o perído-de-caminhadas-no-Ibirapuera. Todos os dias pareciam ter o triplo das horas. Foi cansativo, mas sobrevivi.

Quero voltar a me encontrar com este mundo. Novidades, durante o período-de-frila, não faltaram. Apesar da falta que as horas faziam, uma viagem à cidade maravilhosa trouxe um tantão daquela boa energia que só o Rio tem. Num repeteco do ano passado, fomos ao Maracanã assistir ao bicampeonato do Flamengo. "Estou morrendo de saudades. Rio, seu mar. Praia sem fim. Rio, você foi feito prá mim". Como o Fábio diz, ir para o Rio tem um lado ruim: "temos de lidar com aquele gostinho de quero mais." O bom é que voltar à cidade maravilhosa (e um dia para ficar, é claro) sempre está nos nossos planos...

... esse emaranhado de palavras é só para dizer que estou por aqui. Saindo de um rotina cansativa e desgastante para me reencontrar com as tardes livres para os passeios no parque, com as manhãs de leitura de jornal, com as horas sem nada para fazer...

* relendo o post, percebi que cometi uma injustiça. Assim como o João, o Fábio, a Lui, a Ju e a Dri, outros tantos amigos queridos também me inspiram. Tenho a sensação de que a cada releitura, lembrarei de algum de vocês, e terei que me desculpar por não tê-lo citado antes. Agora, neste exato momento, minhas desculpas vão para a Amanda, a Cinthia e o Tiago - que conseguem fazer com que cada história, mesmo aquelas que não teriam a nossa atenção, ganhe efeitos para lá de especiais.