26.11.06

cheiro e ventos de bossa nova

Sábado à tarde. Almoço vegetariano. Conversa de amigas-mulheres. Caminhada. Sol. Pássaros. Vela laranja. Incenso. Cartas sobre a vida. Novas possibilidades. Espiritualidade. Boas energias. Chá de canela. Temporal. Sanduíche prensado. Suco de Maracujá. Música para aconchegar a alma. Obra Viva Tom Jobim. Madrugada. Boteco. Filmes franceses. Iemanjá. Chuva forte. Volta para casa.

Um dia com muitas e boas energias. O início do ciclo de concretizações. O momento de enxergar o que elas tinham para me mostrar. Transição - como sempre acontece em passagens de anos. Novos ares. Cheiro e ventos de lótus.

É inevitável. Os finais de ano sempre vêm acompanhados daquele tradicional balanço. Coisas boas e ruins são repensadas. Também tem o silêncio, a reflexão e a energia para novos projetos. Finais de ano são sempre assim. Colocamos na mesa tudo que aprendemos, que ensinamos, que fizemos ou que deixamos de fazer. Finais de ano sempre trazem a sensação de que tudo pode ser melhor, de que mais uma etapa termina e, conseqüentemente, outra começa. É assim e sempre será.

O último mês de 2006 traz a certeza de que agir é sempre a melhor opção. Sonhos e desejos presos por falta de ação devem ocupar seus devidos lugares. Planos e projetos para o meu 22º ano ser muito intenso e bastante produtivo. De ontem, também ficou a certeza de que dúvidas existirão e persistirão em nos acompanhar. É preciso saber conduzi-las da melhor maneira possível. É importante - e necessário - guiar os pensamentos para rumos leves. É isso.

Como não poderia deixar de ser, a música também passou por esse dia de boas energias. Obra Viva Tom Jobim no teatro do Sesc Pompéia. Elza Soares, Danilo Caymmi, Rosa Passos, Max de Castro e Thalma de Freitas, acompanhados pela sensacional banda de jovens músicos conduzidos pelo maestro - também muitíssimo jovem - André Marques, cantaram os cantos de Tom Jobim para homenageá-lo.

Moacir / Site Oficial Tom Jobim

Um repertório de causar arrepios. Água de Beber. Desafinado. Brigas nunca mais. Por causa de você. Passarim. Wave. Só danço samba. Você vai ver. Águas de março. Morro não tem vez. Correnteza. Samba de uma nota só. Por toda minha vida. Borzeguim. Frevo de Orfeu. Gabriela. No bis, como não poderia deixar de ser, juntos, os que lá cantavam em homenagem a Antonio Carlos Jobim fecharam a noite com Chega de Saudade: "que coisa linda, que coisa louca".

Esse foi o décimo segundo show do ano. Sim, a música é aquele aconchego que a minha alma precisa. Cantar e dançar a paz e o balanço gostoso da bossa nova é o que melhor poderia ter feito para terminar um dia como o de ontem.

23.11.06

* presente do acaso *

Ontem foi uma noite para lá de especial. Consegui ter ao meu lado três pessoinhas muito importantes: Fábio, o rapaz que ama Paralamas; Ju, a minha grande conquista de 2006 e a Thá, amiga de sempre.

O Via Funchal era o ponto do encontro. No palco, Maria Rita e Paralamas do Sucesso. Mas, por obra do acaso, a noite ganhou um toque especial. Convidei a Thá para o show. Comprei os nossos ingressos no sábado à tarde - Fileira E / Mesa 20. Entradas em mãos. O Fábio e Ju já tinham desistido de ir - ela porque não tinha grana; ele pela falta de companhia. Porém, como disse a menina dos cabelos amarelos, "era para acontecer".

Explico: na terça-feira, dia 21, meu celular toca: "Oi, Thais. Aqui é a Paula da Rádio Alpha FM. Estou ligando para dizer que você ganhou um par de convites para o show de Maria Rita e Paralamas!". Minha reação: "O que????". Ela: "É! O seu nome estará na lista de convidados na porta do Via Funchal. Você pode retirar o seu par de ingresso uma hora antes do show". Eu: "Tá. Obrigada, Paula". Desliguei o celular sem saber o que fazer. Fui sorteada, mas já tinha ingressos. Não pensei nem dez segundos. Liguei para o Fábio, ofereci os ingressos da Alpha e já falei para convidar a Ju. Eles toparam. Um presente só para dizer obrigada ao dois, que surgiram para deixar a minha vida um tantão mais feliz.

Até as 20h30min, eu ainda não sabia qual era o lugar dos convites sorteados pela Rádio. Cheguei mais cedo e sozinha ao Via Funchal. Na porta, garotas simpáticas estavam com a lista de sorteados. Falo meu nome, mostro o RG e recebo os ingressos. Espanto! Eles indicavam Fileira E - Mesa 18. Ou seja, a Ju e o Fábio assistiriam ao show na mesa ao lado da minha e da Thá. Coincidência, obra do acaso ou destino. Não importa, o fato é que esse detalhe me fez a pessoa mais feliz da noite.

O show começou com a fabulosa e encantadora Maria Rita. Linda, como sempre, com seu gingado e carisma únicos, ela foi responsável por trazer aquele espontâneo sorriso ao meu rosto. Olhei para os lados e percebi que, para mim, bastava estar ali. Aquela noite já teria tudo para ser uma das mais especiais do ano. Ver os olhinhos do Fábio, da Ju e da Thá brilharem de alegria alimentou meu coração de coisas boas e leves. O repertório da filha de Elis nos dava vontade de sair rodando. Teve músicas alegres, cheias de entusiasmo. Teve também as que nos lembravam momentos bons de um passado não tão distante. E teve as que, inevitavelmente, deixaram lágrimas de emoção serem derramadas. Foi inesquecivelmente lindo!

Foi ela quem os trouxe ao palco, "os mestres de sua geração". Ela ficou, fez o corpo arrepiar e abriu espaço para todo aquele sentimento sair da caixinha. Poderia mesmo acontecer, eu sabia. Ouvir e ver Paralamas ao lado do rapaz especial sem deixar as gotinhas de água caírem dos olhos seria impossível. E foi. Lanterna dos Afogados, cantada por Maria Rita e Herbert Vianna, tocou cada cantinho daqui de dentro. Vieram com ela todas as coisas boas que a vida já meu deu. Todas aquelas lembranças que estão guardadas nas nossas caixinhas. Paralamas carrega grande parte da trilha sonora da minha vida. Impossível não deixar a emoção rolar.

Foi assim que a noite do dia 22 de novembro de 2006 entrou para a lista de momentos especiais. Foi lá que todas as lembranças boas vieram à tona. Lembrei dos tempos de adolescência com a Thá, dos bate-papos sempre muito importantes com a Ju e, claro, de cada momentinho vivido com o rapaz que ama Paralamas. Aqui abro parêntese. (Lembrei, em especial, das nossas primeiras conversas sobre música - naquele tempo em que nem poderíamos imaginar o quão bonita seria a história que vivemos juntos. Lembrei do dia exato em que ele me disse que era louco pelos três rapazes que nos empolgaram e nos fizeram gritar, cantar, pular e emocionar com cada uma daquelas músicas e letras).

A vocês, Fábio, Ju e Thá, o meu muito obrigada.

20.11.06

pra ser sincero

Já escolhi a trilha do ano.

E o que passou, calou
E o que virá, dirá...

O tempo vai passar
E tudo vai entrar no jeito certo de nós dois
As coisas são assim
E se será, será

Se assim não for, pelo menos ficará a melhor das lembranças. E só.

15.11.06

an inconvenient truth

Não é só um documentário sobre aquecimento global. Para nós - os não-estadunidenses -, é mais do que isso. Uma verdade inconveniente é também um filme político e/ou sobre um político. Ele é Al Gore - que deveria ter sido o próximo presidente dos Estados Unidos eleito em 2000, caso a tão discutida proporcionalidade de votos nos Estados não tivesse elegido aquele cidadão - se é que o Mr. Bush pode ser chamado assim.

Argumentos persuasivos, melodramáticos e hollywoodianos intercalam-se durante os 100 minutos em que somos apresentados à verdade de Gore. De fato, é impossível tirar os olhos da tela - prova de que o "quase próximo presidente dos EUA" é convincente. Mas há algo que incomoda e, depois de terminada a sessão, bateu o alívio por perceber que o incômodo é comum.

Explico: além de ressaltar a questão ambiental, o documentário é cortado por intervenções que mostram quem é Al Gore. Seria necessário se a forma de nos apresentá-lo tivesse sido diferente. As histórias de vida do político engajado na luta pelo meio ambiente são narradas como em qualquer filme de Hollywood, em que o mocinho está sempre em busca do bem-comum - nesse caso é importante ressaltar que o tal do bem-comum está muito mais relacionado aos Estados Unidos, do que à outra parte do mundo. E, por isso, fica evidente que, (quase) o tempo todo, Gore faz um documentário para alertar seus conterrâneos (e, talvez, somente eles).

Diferentemente do que muitos possam imaginar, isso não tira méritos da produção. Como disse assim que saímos do Cine Bombril, o documentário é construído dessa maneira porque é assim que eles - estadunidenses - enxergam o mundo. Uma verdade inconveniente quer provar, por meio dos slides e das falas de Al Gore, que os Estados Unidos da América está (o país) se comportando como vilão de si mesmo. Por que? Porque a maior potência econômica é também a que mais destrói o futuro do ambiente no mundo. Simples assim.

Os números sobre o aquecimento global, as cenas de destruições de geleiras e de catástrofes mundiais em decorrência do descuidado humano em relação ao meio em que vive é óbvio que nos causam um alerta. Mas a impressão (que eu tive, é claro) é que todos os argumentos de Gore falam de uma realidade que não está ao nosso alcance - ao latino-americano. De fato, ele também explicita que o problema é dos EUA e que está disposto a convencer - em especial - as pessoas daquele país a mudarem seus atos. Porém, isso não justifica - nem explica - o motivo pelo qual não consegui sair mais engajada do cinema. Uma pergunta então: será que documentários como Uma verdade inconveniente, que utilizam ferramentas melodramáticas, conseguem movimentar e motivar ações no mundo? Não sei. Talvez possa soar racional demais, mas o apelo emotivo também foi um dos responsáveis por causar aquele incômodo.

Para os que chegaram até aqui não acreditarem que sou uma contrária à luta pelo meio ambiente, tento agora destacar alguns motivos para assistir ao documentário:

1) Al Gore é a prova de que sim, ainda existe vida inteligente nos EUA. Apesar de ter aqueles trejeitos bem característicos de seu país, ele pode ser facilmente chamado de "ovelha negra da família" (e, nesse caso - como em muitos outros - isso é uma grande vantagem);

2) A produção é muito bem feita. Isso é indiscutível - como já escrevi, é impossível não ficar atento durante as quase duas horas.

3) Conhecer os números e os problemas do aquecimento global é, de qualquer forma, um estímulo para pensar sobre o nosso comportamento diante das coisas do mundo. Se não sair engajado, pelo menos terá a certeza de que todo e qualquer movimento que queira salvar o ambiente é válido.

4) Talvez, assim como eu, você também saia com a sensação de que Al Gore produziu Uma verdade inconveniente como uma ferramenta política para as próximas eleições. E se esse pressentimento for confirmado, e ele se candidatar novamente, existirá a grande oportunidade de alguém que pensa de verdade assumir o comando da maior potência. O mundo agradece, é claro!

5) As conversas pós-sessão são sempre muito produtivas. A questão do aquecimento global também foi uma questão política. Como Gore afirma, "e se ela não está na pauta, não é discutida pelos político". Ou seja, deixa de existir. Então, que ela seja política!

Ah, para os que querem saber mais sobre a produção, acesse http://www.climatecrisis.net/

13.11.06

Dandaras

A reportagem é uma produção de Carlos Gutierrez, Diego Salmen, Maria Cavalcanti, João de Freitas e Thais Arbex Pinhata - alunos do 3º ano de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.

12.11.06

mulher sempre mulher

Como isso é possível? Ele sempre consegue mostrar a essência de cada uma delas. É como se tivesse um certo poder de conhecer a alma feminina - e muito melhor do que nos mesmas, é importante destacar. Sim, é Almodóvar. Só poderia ser.

Volver foi a escolha para uma tarde muito agradável (por causa da deliciosa companhia, é claro!). Não poderia ter sido melhor. Um filme que nos fez perceber como é possível encontrar força e brilho onde já não os enxergamos. As mulheres de Almodóvar - como todos têm dito por aí - são lindas e fortes. As lágrimas e os desafios não as deixam menos espetaculares. Isso nos inspira, é verdade.

Um filme de reencontros - de atrizes com o cineasta; do diretor com a infância; de Raimunda (a sensacional Penélope Cruz) com a mãe, Irene (a não menos esplêndida Carmem Maura). Esses reencontros comandam aquele universo que transita entre a delicadeza e coragem feminina. São elas, as mulheres, que se enchem de energia para enfrentar todas as dores que passam pela vida. Volver não é o (re)encontro com um passado ruim. É voltar-se ao que de bom foi deixado no caminho. É isso. É preciso achar as pecinhas que nos compõem para darmos o passo seguinte. Sabe aquele brilho que todos diziam enxergar? Reencontre-o para Volver.

Hoje reencontramos a genialidade de Pedro Almodóvar. Mais do que isso, reencontramos a nossa essência sempre tão forte e delicada.

rapidinha

Eu ganhei a promoção da Rádio Universitária - Gazeta AM 890KHZ. Para concorrer a um par de ingressos e a uma camiseta do filme Fica Comigo Esta Noite era preciso responder à pergunta: “O que teria feito nos últimos momentos de minha vida se soubesse que eles seriam os últimos?”.

Fiquei em 5º lugar e a minha resposta foi: “Embarcaria para o Rio de Janeiro só para levar comigo o aconchego das rodas de Santa Tereza, regadas aos sambas de Noel e às bossas de Vinícius. E só. A beleza e o encanto de todos os cantos do Rio já seriam suficientes para crer que os últimos foram os melhores dias vividos!”

Clique aqui e veja o resultado da promoção!

11.11.06

um dia com 72 horas

A quinta-feira terminou hoje - quer dizer, parte dela. Os últimos três dias foram muito corridos e, apesar de estar exausta, adoro viver a falta de tempo dessa profissão maluca que escolhi. E, para usar algo que todos desse meio detestam - abre parêntese (o clichê) -, tudo começou na quinta, dia 09 de novembro. Fui escalada para cobrir o Café Filosófico no Trianon, cujo tema era “A Condição Humana em Tempo de Luzes e Sombras”. A edição comemorou o centenário de nascimento da filósofa alemã Hannah Arendt (1906–1975) e também os quatro anos do projeto - idealizado pelo professor de Filosofia da Cásper, o Chico Nunes. O debate sobre o pensamento arendtiano terminou por volta das 15h30. Do Trianon direto para o número 900 da Paulista para escrever a minha matéria. Juro que tentei, mas não consegui escrevê-la. O raciocínio já não respondia aos estímulos - é importante ressaltar: isso é comum nessa época. O último bimestre sempre nos destrói. Não conseguindo fazer o cérebro funcionar como deveria, desisti e fui para aula. Ciência Política e a exibição de Fahrenheit - 11 de setembro, de Michael Moore. Sensacional, mas tenho ressalvas a fazer - mas que só serão publicadas em um próximo post, ok?

Infelizmente, não poderia deixar de assistir à segunda aula porque já se passava um mês desde o meu último encontro com a Cultura Brasileira. Com o corpo e a mente bem cansados, não resisti e apelei ao papai. Como ele estava de bom humor, foi me buscar e eu não precisei enfrentar o frio da Avenida Paulista e o vento gelado no ponto de ônibus. Cheguei em casa rapidinho, corri para o banho, comi alguma coisinha e fui para cama. O dia seguinte seria de muuuuuuiiiiiiito trabalho.

Sexta-feira, 10 de novembro. O despertador toca às 7h. O corpo não quer, mas é preciso levantar. É dia de fazer reportagem para Telejornalismo. A pauta? 9º FERPP - Feira de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda da Cásper. Um pouco antes de sair de casa, o celular toca. Era a Maria - amiga e repórter do grupo. Ela acordou sem voz, ou seja, eu ou o João teríamos que assumir a função que ela cumpre muitíssimo bem. Na hora, liguei para o Joe. Ele estava atrasado e... sim, eu teria que ser a repórter! Poats!

(Aqui é importante destacar que não, não nasci mesmo para aparecer na frente das câmeras. Não tenho vocação. Por isso, fugi dos exercícios de tp, passagens e afins da aula de Telejornalismo o ano inteiro. Mas, como ironia do destino, fui pega agora, no final do 4º bimestre. Humpf!)

Tive que superar e lá fui com o Rubem (o cinegrafista gente boníssima) fazer as imagens da 9º FERPP. Joe e Maria chegaram e se encarregaram de dar um toque especial à toda reportagem. Sim, eles são muito bons! Ah, e claro, além disso, deram-me umas aulas antes da gravação da passagem. Foi difícil, não saiu como eles mostravam, mas gravei a tão necessária passagem. Terminamos a gravação pouco antes das 13h30min. João foi trabalhar. Maria foi para casa com a fita para passar a tarde decupando. Eu passei na Coordenadoria só para tentar ver os emails. Não consegui - eram mais de sessenta. Um outro compromisso me esperava - uma prova, na verdade. Das 16h às 17h30m: português, atualidades, lógica, inglês e uma redação sobre ética na política. Para dizer que a ética é do indivíduo e não da atividade que ele desempenha, palavras de Cláudio Abramo. Fim. Só da prova, importante lembrar.

Para a esquerda. Saía do prédio e siga em direção à Consolação. Essa foi a instrução dada pelo amigo querido, mas, no meio do caminho, descubro que a melhor opção é a Rua Augusta. Em frente ao Novo Hotel Jaraguá tem um ponto de ônibus. Foram aproximandamente trinta segundos entre chegar no ponto, o ônibus passar, dar sinal e entrar. Ufa! Desço um ponto antes de atravessar a Paulista e vou correndo - literalmente - para o abafado 5º andar do 900 da maior avenida da cidade. Explico de novo: à minha espera, estava a matéria sobre o Café Filósofico. Lembra? Sim, aquele que eu não consegui escrever. E, além disso, também tinha o site para fechar. Será que dava? Tinha que dar!

Às 18h, chego, subo, sento, ligo o gravador. Um copo de água para baixar a adrenalina. Hannah Arendt ocupa quase uma hora. O resultado, bem diferente do que eu esperava, vai para o ar como As sombras da razão. Às 20h50min termino o fechamento do site - a minha querida companheira-editora já estava sendo RP no terceiro andar. Boa sorte para a Rotasul amanhã!

Acabada a correria, à aula de Jornalismo Básico 3. Por causa do cansaço, dessa vez só ouvi. Mas as conversas que acontecem depois são sempre bastante proveitosas. Fim de sexta-feira e 15ºC na Avenida Paulista. Inevitavelmente, só pensava em banho e cama quentinhos. Mais uma vez, dormir era a ordem para agüentar o dia seguinte - hoje.

Começou com o despertador às 7h. Café da manhã, banho, pega o Estadão e os ônibus até a Cásper. A edição da reportagem era das 10h às 13h. Não conseguimos preparar o roteiro e o off antes de sentarmos com o Claudinei para editar. Apesar de ter a certeza de que não conseguiria pensar em nada, deu tudo certo. Conseguimos escolher as imagens, as sonoras e escrever o off - que seria gravado por mim. Ai, ai, viu?!

Depois das dicas da Maria, estúdio. Off gravado. Tínhamos uma hora para passarmos as sonoras e cobrir o texto com imagens. Deu, para o nosso alívio. E, apesar da correria, ainda encontramos um jeito de deixar a matéria com um toque a mais. Para trilha, Hiperconectividade, Lulu Santos (que também cabe perfeitamente como trilha das minhas últimas 72 horas). Gritinhos felizes só para comemorar o fim da edição e a matéria pronta. Conseguimos!

Não, o dia não acabou. O trabalho de Jornalismo Básico 3 ocuparia o resto da tarde. Uma matéria da Cláudia para Vip. Essa é a idéia. Os detalhes não cabem aqui, mas tem dado um trabalho imenso. Mas até terça-feira tem chão (eu acho). Só hoje, foram mais de noves horas dentro daquele prédio. Mas passou.

Sim, agora o dia acabou. Estou em casa, tomando um chazinho bem quente e me preparando para encontrar o cobertor. Ufa!


Mas quer saber? Que venham os outros dias de setenta e duas horas!

9.11.06

"ame-o e deixe-o ser o que ele é"

Perfume novo no ar. Foi um presente dele logo depois do almoço. Passamos o dia juntos e, para minha grande surpresa, ele me conhece muito mais do que eu imaginava. Bobinha, ainda acreditava que podia disfarçar. Acreditava que eles nem percebiam essas coisinhas que não deixam os meus passos saírem do ciclo. Acreditava que elas eram tão minhas e só minhas. Engano. Um estalo e a certeza de que o abraço apertado do domingo será repetido outras vezes.

O almoço, as compras e a conversa que durou um pouco mais de uma hora mudaram um tantinho os ventos que sopram por aqui. Não ficaram tão leves como desejo, mas já trazem sensações diferentes. Ainda sem identificação, mas são sensações diferentes daquelas. Melhor: trazem a certeza de que é preciso deixar os olhos, o corpo e a mente livres para os novos caminhos. E, por mais que as tentativas de nos mantermos firmes sejam infinitas, às vezes é necessário - e recomendável - assumir que as mudanças são processos que nos tiram do eixo. Só assim (há pouco percebi, é importante ressaltar), seremos capazes de enxergar que a tal arte de perder, da qual Elizabeth Bishop fala com tamanha intensidade, é também (e simultaneamente, talvez) a arte de ganhar. E, nesse caso em específico, é a oportunidade para continuar aprendendo.

Guimarães Rosa, ou melhor, Riobaldo, em suas veredas pelo Grande Sertão, diz algo que resume muito o momento: "Viver não é? É muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender a viver é o viver mesmo". E é isso. É preciso viver para sabermos se os caminhos que percorremos são mesmo os que desejamos percorrer.

E hoje, sem motivo ou qualquer explicação, acordei com uma música do Gilberto Gil na cabeça que, por coincidência ou não, cabe perfeitamente como trilha desse post:

O seu amor,
Ame-o e deixe-o livre para amar.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o brincar.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o correr.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o cansar.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o dormir em paz.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o ser o que ele é.

rosas de chocolate

Pessoas queridas e rosas de chocolate. Lindos!

7.11.06

one art

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

Even losing you (the joking voice, a gesture I love)

I shan't have lied. It's evident the art of losing's
not too hard to master though it may look like
(Write it!) like disaster.

(Elizabeth Bishop)


2.11.06

* encontros e despedidas *














A chuva não estava nos planos, mas deixou a tarde com mais cara de São Paulo, cinema e livros. Por isso, todos tiveram a mesma idéia - e aqui é preciso abrir um parêntese (nunca estive numa Reserva Cultural tão cheia). Cheguei às 15h. A primeira sessão começaria em cinco minutos e, mesmo com a enorme fila, consegui o meu lugar na sala 1. O filme era uma das estréias do feriado: O ano em que Meus Pais Saíram de Férias, do diretor Cao Hamburguer.

1970. México, Copa do Mundo. No Brasil, ditadura militar. Mas, diferentemente do que possa parecer, a produção brasileira não é mais uma sobre futebol e/ou repressão. Vai além. O encantamento não está nos passes de Tostão para Pelé, e a dor não é escancarada nas salas de tortura do Doi-Codi. Os protagonistas não são os craques do futebol, nem os estudantes e militares. Mauro e os botões do futebol conduzem a história da comunidade paulistana do Bom Retiro. Mineiro de Belo Horizonte que vem para São Paulo, o garoto de 12 anos, olhos verdes apaixonados por dribles, não deixa a atenção fugir de cada um de seus movimentos - como se algum pozinho, o de pirlimpimpim talvez, tivesse se espalhado pelo ar nos impedindo de pensar em outra coisa que não esteja dentro daquela história. O pequeno garoto - ator de primeira viagem, como foi dito por aí - carrega a alma do filme. Nele é possível reconhecer todo sofrimento e alegria de um ano contraditório para o país verde-amarelo. Um ano em que desespero e esperança caminharam juntos - para Mauro, com mais intensidade.

Ele não foi escolhido por acaso, acredito. As crianças têm o incrível dom - que com o passar dos anos é deixado de lado - de serem sinceras. Não só nas falas, mas nos gestos e olhares. Talvez, por esse motivo, nem foi preciso mostrar bombas de ferimentos e bombas de entusiasmo. O pequeno Mauro era o movimento e a magnitude daquele ano que, para ele, foi de conquistas indestrutíveis: amigos, amores e carinhos. Bastavam e bastariam, se os desencontros não existissem sempre pela vida...

O filme terminou é só ficou a sensação de que é mesmo preciso mudar e recomeçar para nos darmos conta do quão importante foi o que passou. É preciso sempre carregar pedacinhos das pessoas que estiveram em nosso caminho. É preciso lembrar da infância para não deixar que os sentimentos e desejos ingênuos sejam perdidos. Foi isso também o que senti quando terminou a segunda sessão do dia. Na sala 4, da mesma Reserva Cultural, um carinho no coração que trariam lágrimas simultâneas de emoção e felicidade: Pequena Miss Sunshine.

Diferentemente do que o trailer nos levava a imaginar, a produção não é mais uma bobinha comédia norte-americana. Mais uma vez, o desejo de criança escancara as fraquezas e os medos do mundo dos adultos. Uma história que nos permite entrar em contato com tudo que deixamos de lado por conta de um (involuntário talvez) egoísmo. Crescemos e acreditamos na independência. Nos tornamos auto-suficientes. Aprendemos a fazer tudo sozinhos e, bobinhos, confiamos na certeza de que ninguém, além de nós mesmos, é mais importante no mundo. Besteira.

Hoje, depois de um dia sozinha, no meio de tanta gente, tive a certeza de que de nada adianta enfrentarmos o mundo sem que os outros existam. Neles estão a nossa motivação e explicação para estarmos por aqui. Pequena Miss Sunshine foi responsável por me trazer de volta aquela leveza que há um tempo tinha sumido do corpo e da mente. A pequenina Olive provou que estar juntinho e bem pertinho das pessoas que amamos é lindo. E só isso já explica o desejo constante por mais reencontros, e menos despedidas.

três possibilidades

Não sei bem quem inventou, como surgiu, quem disse para quem. Mas hoje ela me foi apresentada. Uma teoria - se é que pode mesmo ser chamada assim - que explica muitas e muitas coisas sobre os encontros e desencontros que existem pela vida.

Dizem que são três, não uma como alguns insistem. "Cada um tem três possibilidades de alma gêmea". Para ficar mais claro, ela fez questão de me explicar outra vez: é possível "passar a vida sem encontrar nenhuma delas". Mas, para os corações que andam em desalinho, a teoria também diz que "poder ser que encontremos 1, 2 ou as 3 mesmo". Se a sorte andar por aí, e as três aparecerem, escolheremos uma para viver juntinho, mas amaremos as outras para sempre. Ou ainda: "é possível amar todas e ficar sem nenhuma".

Se ela se comprova de fato, não posso afirmar. Daqui a um tempo, talvez eu volte para escrever sobre a segunda e/ou a terceira. Talvez não. É só uma explicação que alimenta a alma de coragem. Não era a resposta esperada para as perguntas que insistem em permanecer com pontos de interrogações. Mas é uma pontinha que carrega a certeza de que nenhum amor é mal vivido.