9.11.06

"ame-o e deixe-o ser o que ele é"

Perfume novo no ar. Foi um presente dele logo depois do almoço. Passamos o dia juntos e, para minha grande surpresa, ele me conhece muito mais do que eu imaginava. Bobinha, ainda acreditava que podia disfarçar. Acreditava que eles nem percebiam essas coisinhas que não deixam os meus passos saírem do ciclo. Acreditava que elas eram tão minhas e só minhas. Engano. Um estalo e a certeza de que o abraço apertado do domingo será repetido outras vezes.

O almoço, as compras e a conversa que durou um pouco mais de uma hora mudaram um tantinho os ventos que sopram por aqui. Não ficaram tão leves como desejo, mas já trazem sensações diferentes. Ainda sem identificação, mas são sensações diferentes daquelas. Melhor: trazem a certeza de que é preciso deixar os olhos, o corpo e a mente livres para os novos caminhos. E, por mais que as tentativas de nos mantermos firmes sejam infinitas, às vezes é necessário - e recomendável - assumir que as mudanças são processos que nos tiram do eixo. Só assim (há pouco percebi, é importante ressaltar), seremos capazes de enxergar que a tal arte de perder, da qual Elizabeth Bishop fala com tamanha intensidade, é também (e simultaneamente, talvez) a arte de ganhar. E, nesse caso em específico, é a oportunidade para continuar aprendendo.

Guimarães Rosa, ou melhor, Riobaldo, em suas veredas pelo Grande Sertão, diz algo que resume muito o momento: "Viver não é? É muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender a viver é o viver mesmo". E é isso. É preciso viver para sabermos se os caminhos que percorremos são mesmo os que desejamos percorrer.

E hoje, sem motivo ou qualquer explicação, acordei com uma música do Gilberto Gil na cabeça que, por coincidência ou não, cabe perfeitamente como trilha desse post:

O seu amor,
Ame-o e deixe-o livre para amar.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o brincar.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o correr.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o cansar.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o dormir em paz.
O seu amor,
Ame-o e deixe-o ser o que ele é.

2 comentários:

Thá disse...

ele, de quem falo nesse post, é meu pai

Anônimo disse...

"Seja aquele navio, no mar sem rumo e sem dono/ mas tenha a miragem do porto, pra reconfortar seu sono/ e assim flutuar nas águas da maré do abandono" (encarando o sentido bom do radical: sem dono, sem amarras, sem... ou melhor, c/ a liberdade de uma folha de sulfite em branco e um lápis à mão). - As aspas são inspiradas em uma música do Lenine. - "Se velejar na imensidão do mar, você jamais saberá o que irá encontrar..." - Música de minha autoria...- Às vezes faz-se preciso remar, mesmo que contra a maré... Noutras, é melhor que o ventos nos aponte os caminhos...

BJAUM ANGEL!