15.11.06

an inconvenient truth

Não é só um documentário sobre aquecimento global. Para nós - os não-estadunidenses -, é mais do que isso. Uma verdade inconveniente é também um filme político e/ou sobre um político. Ele é Al Gore - que deveria ter sido o próximo presidente dos Estados Unidos eleito em 2000, caso a tão discutida proporcionalidade de votos nos Estados não tivesse elegido aquele cidadão - se é que o Mr. Bush pode ser chamado assim.

Argumentos persuasivos, melodramáticos e hollywoodianos intercalam-se durante os 100 minutos em que somos apresentados à verdade de Gore. De fato, é impossível tirar os olhos da tela - prova de que o "quase próximo presidente dos EUA" é convincente. Mas há algo que incomoda e, depois de terminada a sessão, bateu o alívio por perceber que o incômodo é comum.

Explico: além de ressaltar a questão ambiental, o documentário é cortado por intervenções que mostram quem é Al Gore. Seria necessário se a forma de nos apresentá-lo tivesse sido diferente. As histórias de vida do político engajado na luta pelo meio ambiente são narradas como em qualquer filme de Hollywood, em que o mocinho está sempre em busca do bem-comum - nesse caso é importante ressaltar que o tal do bem-comum está muito mais relacionado aos Estados Unidos, do que à outra parte do mundo. E, por isso, fica evidente que, (quase) o tempo todo, Gore faz um documentário para alertar seus conterrâneos (e, talvez, somente eles).

Diferentemente do que muitos possam imaginar, isso não tira méritos da produção. Como disse assim que saímos do Cine Bombril, o documentário é construído dessa maneira porque é assim que eles - estadunidenses - enxergam o mundo. Uma verdade inconveniente quer provar, por meio dos slides e das falas de Al Gore, que os Estados Unidos da América está (o país) se comportando como vilão de si mesmo. Por que? Porque a maior potência econômica é também a que mais destrói o futuro do ambiente no mundo. Simples assim.

Os números sobre o aquecimento global, as cenas de destruições de geleiras e de catástrofes mundiais em decorrência do descuidado humano em relação ao meio em que vive é óbvio que nos causam um alerta. Mas a impressão (que eu tive, é claro) é que todos os argumentos de Gore falam de uma realidade que não está ao nosso alcance - ao latino-americano. De fato, ele também explicita que o problema é dos EUA e que está disposto a convencer - em especial - as pessoas daquele país a mudarem seus atos. Porém, isso não justifica - nem explica - o motivo pelo qual não consegui sair mais engajada do cinema. Uma pergunta então: será que documentários como Uma verdade inconveniente, que utilizam ferramentas melodramáticas, conseguem movimentar e motivar ações no mundo? Não sei. Talvez possa soar racional demais, mas o apelo emotivo também foi um dos responsáveis por causar aquele incômodo.

Para os que chegaram até aqui não acreditarem que sou uma contrária à luta pelo meio ambiente, tento agora destacar alguns motivos para assistir ao documentário:

1) Al Gore é a prova de que sim, ainda existe vida inteligente nos EUA. Apesar de ter aqueles trejeitos bem característicos de seu país, ele pode ser facilmente chamado de "ovelha negra da família" (e, nesse caso - como em muitos outros - isso é uma grande vantagem);

2) A produção é muito bem feita. Isso é indiscutível - como já escrevi, é impossível não ficar atento durante as quase duas horas.

3) Conhecer os números e os problemas do aquecimento global é, de qualquer forma, um estímulo para pensar sobre o nosso comportamento diante das coisas do mundo. Se não sair engajado, pelo menos terá a certeza de que todo e qualquer movimento que queira salvar o ambiente é válido.

4) Talvez, assim como eu, você também saia com a sensação de que Al Gore produziu Uma verdade inconveniente como uma ferramenta política para as próximas eleições. E se esse pressentimento for confirmado, e ele se candidatar novamente, existirá a grande oportunidade de alguém que pensa de verdade assumir o comando da maior potência. O mundo agradece, é claro!

5) As conversas pós-sessão são sempre muito produtivas. A questão do aquecimento global também foi uma questão política. Como Gore afirma, "e se ela não está na pauta, não é discutida pelos político". Ou seja, deixa de existir. Então, que ela seja política!

Ah, para os que querem saber mais sobre a produção, acesse http://www.climatecrisis.net/

2 comentários:

Anônimo disse...

Querida,
Grata por colocar os textos descompassados em sua gaveta.
Beijos!

Adorei o texto.

moça dos olhos d'água disse...

ah... e eu, que queria tanto ver o documentário, me afoguei no todo-dia e não fui. ainda me resta tentar ver o filme no iguatemi cinemark, mas quem disse que eu suporto aquele lugar? bah! =| beijos!