27.2.08

... a porta encostada

A porta estava encostada. Ela entrou sem pedir permissão, sem ser notada. Tomou conta de todo o espaço - como se tudo, a partir daquele momento, começasse a rodar ao seu redor. Ela é pretenciosa. Acredita que pode comandar, mandar e desmandar. Como bem entender. Chega assim. Sem avisar. Do nada, como dizem. Ela é insistente. É preciso força e coragem para enfrentá-la. Mas, acima de tudo, é indispensável ter maturidade para encará-la e, com um certo desdém, descartá-la.

Os mais suscetíveis a encontram com mais freqüência. Vira e mexe, ela aparece. Uma visita surpresa. No começo, é difícil reconhecê-la. Com o tempo, até conseguimos ignorá-la. Em certos momentos, porém - quando as indefinições estão por toda a parte -, ela atinge seu maior objetivo. Passa sua rasteira. Agora, aos 23, a conheço melhor. Se deixar, ela derruba. Sem dó, nem piedade. Encontrei-a outras vezes. Em tempos passados, em épocas de transição. Conheço suas artimanhas. Mesmo assim, sem perceber, deixei ela me pegar outra vez. De mansinho, ela conseguiu invadir. Apropriou-se de todos os sentimentos. Uma enxurrada. Um turbilhão de emoções.

Aos poucos, passa. Ela cansa. Perde a graça - quer entrar em outra casa em que a porta também esteja encostada. Mas ela deixa seus rastros. Precisamos de ajuda para jogá-los fora. Sorte daqueles, que como eu, podem contar com o aconchego de quem nos quer bem. Nem todos entendem. Poucos sabem dizer o que queremos ouvir. Raro (e especial) é aquele que abraça e conforta com cada uma de suas sempre indispensáveis palavras - e que me fazem perceber o quanto é desncessário deixar ela ocupar o meu espaço.

Ela, para os que não a conhecem, é a insegurança - que, entre tantos outros significados, é o sentimento que se refere à "falta de confiança em si mesmo, em suas próprias qualidades ou capacidades". Coincidência ou não, ela apareceu no final da noite de segunda-feira, logo depois do juramento de jornalista. Época de transição - na qual, queira ou não, é preciso encarar as coisas da vida de outra maneira. Como 'ele' disse, "é preciso leveza".

(escrever sobre esse turbilhão é uma maneira de expusá-la do sofá daqui de casa. Agora, para ela, a porta estará sempre trancada)

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse "ele" da penúltima linha antes dos parênteses sou eu, é?

=)

Cuide-se, meu amor. "Desesperar, jamais", como diz a bela música. O negócio é saber levar, saber lidar com essa insegurança que bate em nossa porta de vez em quando, para que ela não ganhe mais importância do que realmente tem.

Beijo
;)

Lui disse...

Ah, eu fico tão feliz quando eu vejo que pareço com vocÊ...