15.8.06

... caminhando contra o vento ...


Não consegui assitir ao debate dos presidenciávies da TV Bandeirantes - às 22h ainda estava na faculdade discutindo pautas na aula de Telejornalismo. Quando cheguei em casa, começava o quinto e último bloco - em que os candidatos faziam suas considerações finais. Por sorte, consegui pegar os quase dois minutos de Heloísa Helena: "Eu me sinto muito feliz e honrada de poder representar toda a luta de milhares de mulheres e brasileiros. O Brasil já poderia ter tido uma presidente da República pela competência, honestidade, sensibilidade e compromisso social da mulher. Eu quero ter a honra de ser a primeira mulher brasileira para, com a mão firme de mãe, mulher e trabalhadora ajudar o povo brasileiro a fazer deste país uma pátria" (Blog do Noblat).

Depois de desligar a tv, fui para frente do micro e direto para o Noblat, que fez a cobertura ao vivo do debate. Decepção! Li que, como já era previsto, se não fosse algumas intervenções mais expressivas da Helô, a platéia teria dormido de tão desanimador que foi o encontro dos cinco candidatos. Sem a presença do presidente Luís Inácio Lula da Silva, a pauta do debate teve um único e exclusivo foco: a tal da cadeira vazia. Hoje de manhã, como de costume, abri os jornais em busca de detalhes sobre a noite de ontem. Mais uma vez decepção. Não por culpa da cobertura jornalística, mas por não ter existido, de fato, um debate.

(...) depois de um tempinho pensando, encontrei a explicação para essa minha motivação em relação à política. Talvez de maneira ingênua, eu tenha sido influenciada por um documentário que assisti ontem à tarde. Bolívia: História de Uma Crise, de Rachel Boynton, documenta a campanha do ex-presidente boliviano Gonzalo Sanchez de Lozada, conhecido como Goni. Para conseguir vencer as eleições de 2002 - e driblar a rejeição -, o candidato contratou uma equipe de consultores políticos da empresa norte-americana Greenberg Carville que, por meio de uma intensa campanha de marketing, garantem a vitória de Goni.

Porém, as promessas que não são cumpridas, lá são cobradas. E não apenas em conversas nos corredores da faculdade com amigos, nas discussões de bar. Não! A população quer ver o que lhe foi prometido e, para isso, protesta - por sinal, de forma muito eficiente. Goni é obrigado a renunciar. E, a partir daí, o documentário mostra a ascensão de Evo Morales. Sensacional!

Estava procurando esse espírito por aqui. Ilusão, né?! Aliás, o Brasil é um país extremamente saudosista. Explico: por ter passado por uma ditadura militar nos anos de 1960 e 70 - e terem feito várias revoluções contra os milicos, acreditamos que a nossa participação política já foi cumprida. Não queremos fazer agora, nosso desejo era ter participado de todos os movimentos revolucionários daquela época - como se já não existisse motivo para tanto engajamento. Triste, não?!

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Sobre saudosismo e movimentos estudantis brasileiros em plena ditadura militar, a dica é O Sol, Caminhando contra o Vento, de Tetê Moraes. O documentário, que se passa numa "festa-filmagem", quer mostrar a importância do jornal O Sol, que foi editado por estudantes na cidade do Rio de Janeiro entre 1967 e 1968. Entre as pessoas que participaram de O Sol, estão Ziraldo, Fernando Gabeira, Chico Buarque, Ruy Castro, Ana Arruda Callado e Reynaldo Jardim. O subtítulo - Caminhando contra o Vento - é um trecho da música "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, que teria sido inspirada na publicação carioca: "O sol nas bancas de revista. Me enche de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia. Eu vou".

5 comentários:

Anônimo disse...

Pois eu assisti na íntegra e gostei muito do debate. Principalmente da Helô e do Cristóvam.

É claro que poderia ser melhor, se todos os candidatos convidados tivessem comparecido.

Mas por outro lado é bom: quem sabe o Brasil sai dessa incompreensível "anestesia geral" e se dá conta, a tempo, de que elegeu em 2002 um presidente omisso. Pra dizer o mínimo.

Beijo!

Anônimo disse...

Só pra completar o comentário anterior, acho que vale o registro do que disse o então candidato Lula, em 1998, sobre a ausência de Fernando Henrique Cardoso nos debates na televisão:

"O presidente (FHC) não quis o debate. Não apenas com os candidatos, não: ele não quis o debate com a sociedade brasileira."

É ou não é um clone???

Thá disse...

Será que a consciência do companheiro não fica um pouquinho pesada? Será que ele lembra de tudo o que ele foi um dia?

... pelo visto, acho que não, né?!

Só espero que a cadeira vazia não paute os próximos debates! Vamos discutir, né!

Anônimo disse...

A questão é: será que, um dia, ele foi tudo isso mesmo? Ou fomos nós que criamos um mito que não existia? Eu fico com a segunda opção...

E, pra cadeira vazia deixar de ser assunto, basta uma coisa: nosso presidente IR aos debates! Só isso.

Beijo!

Thá disse...

Talvez tenhamos sempre essa tal necessidade de criarmos mito - e, muito provavelmente, de maneira involuntária.

Apostamos todas as chamadas esperanças de "um outro mundo é possível" em uma pessoa. Cometemos um erro e depois nos decepcionamos.

As eleições de 2006 são a prova de que já não estamos tão animados com a política, né?

beijos