16.8.06

ética? ãhn?

E a ética no jornalismo? Nos corredores abafados da faculdade, nas redações dos grandes jornais e revistas e, até mesmo nas conversas de bar, essa questão é pauta permanente. Discutir o fazer jornalístico e suas principais funções perante a sociedade consiste em, inevitavelmente, questionar os limites morais pelos quais o ser humano –e, ao mesmo tempo, o profissional de imprensa - é guiado. E, por tratar e envolver o comportamento individual, a discussão sobre a ética abre espaço para uma outra questão: será que, de fato, existe a ética do jornalismo?

O jornalista Cláudio Abramo – que volta e meia é citado em debates sobre a profissão – defendia que a ética é uma só. Para ele, a ética não muda – e não deve mudar - de acordo com o ofício. “A ética do jornalista é a ética do cidadão”. Abramo dizia que sua ética como marceneiro era a mesma como jornalista. Ou seja, para ele, os caminhos e princípios escolhidos como cidadão devem ser os mesmos que norteiam o do profissional.

Não é raro que o jornalista – de qualquer veículo de comunicação, seja jornal e revista, ou rádio e televisão – depare-se com situações de questionamento sobre seu papel na sociedade. Em meio a uma apuração pode ocorrer uma pausa em relação à pauta para dar espaço a algumas perguntas: qual é o limite do profissional de imprensa? E, além disso, qual é a sua função social? Em reportagens de denúncias, por exemplo, o jornalista deve cumprir seu papel de cidadão ou respeitar o princípio ético jornalístico? É válido gravar imagens ou sonoras sem que a permissão da fonte quando a intenção é mostrar irregularidades que desrespeitam os direitos dos cidadãos?

Se considerada somente a ética do jornalismo, com absoluta certeza, uma gravação sem a autorização do entrevistado, é algo inaceitável. Porém, existe algo que está além e acima dessa ética: o princípio de indivíduo e membro dessa sociedade –, para muitos jornalistas, entre eles Cláudio Abramo, é nele que todos os profissionais de imprensa devem estar ligados. E assim, cabe ao próprio jornalista estabelecer o seu limite ético – que, inevitavelmente, será o mesmo que o conduz em suas ações humanas.

Apesar de distintos, mas por serem conduzidos pelo mesmo indivíduo, os comportamentos pessoais e profissionais acabam convergindo para uma só direção. E, ainda que a atividade jornalística exija a imparcialidade e a objetividade como fios condutores do exercício dessa profissão, nem sempre é possível driblar as ambigüidades que são intrínsecas aos seres humanos em prol de um determinado princípio ético externo – nesse caso específico, da ética do jornalismo. Daí está fundamentada a ética de Abramo: a conduta humana é que comanda a profissional, e não o contrário.

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