5.9.06

Nem tão óbvio assim

De certa forma, até entendo os realistas. Aqueles que nada enxergam além desse mundo real. Sei que é muito difícil acreditar num outro mundo, numa outra forma de governo, numa nova política econômica, em políticos honestos... sim, sei como esses pensamentos parecem - e, em alguns casos, são - utópicos. Já faz um tempo que perdi muito daquele idealismo comum à nossa fase da adolescência. Mas, mesmo assim, ficaram resquícios de uma época em que eu acreditava ser possível mudar as coisas que estão no mundo. Ontem, porém, percebi que ainda existem pessoas que, apesar de - teoricamente - viver e conviverem com o que chamam de realidade brasileira, não dão o braço a torcer quando o assunto em pauta é um projeto que beneficie a sociedade - mesmo que para isso, sejam rotuladas de radicais. E, para ser bem clara, quer saber? A vida já é complicada demais para vivermos agarrados ao que é extremamente real...

Todas essas palavras - que talvez não façam muito sentido -, na verdade, são só um pequeno nariz de cera para falar da sabatina da Folha que aconteceu ontem, dia 04.09.

Heloísa Helena foi a primeira convidada do ciclo de sabatinas com os presidenciáveis promovidas pelo jornal Folha de S.Paulo, no Teatro Folha, no Shopping Higienópolis, em São Paulo. Para entrevistá-la, estavam presentes Valdo Cruz (diretor-executivo da Sucursal da Folha de Brasília), Clóvis Rossi e Fernando Rodrigues (colunistas da Folha) e Renata Lo Prete (editora do "Painel").

Como de praxe, a primeira hora é reservada aos sabatinadores. Das 15h às 16h, a candidata respondeu perguntas sobre quais serão as primeiras ações como presidente da República, a política econômica que será desenvolvida em seu governo, a relação que terá com o Congresso e, claro, sobre a expulsão do Partido dos Trabalhadores em 2003.

Heloísa, como já foi dito por algumas pessoas desde que a campanha eleitoral de 2006 começou, tem dado conta de tornar o debate político mais proveitoso. Mesmo que fale sozinha - já que seus opositores não têm gás o suficiente para tornar a discussão de algumas questões mais enfática -, a senadora não se deixa abater e ressalta que acredita em uma outra forma de resolver os problemas do Brasil.

Para alguns, o idealismo de Heloísa Helena soa como sonhador. E, em diversos momentos durante a sabatina, os entrevistadores do jornal deixaram evidente que estavam irritados com a insistência da candidata do PSOL em acreditar naquilo que diz - ou seja, numa outra forma de representar o Estado nacional.

Perguntei-me então: será que, de fato, nos acostumamos com o que está estabelecido? Ou, na verdade, as coisas no mundo são tão imutáveis a ponto de crucificarmos pensamentos e atitudes que se direcionem para um caminho contrário ao que é percorrido? Sinceramente, não sei a resposta. (quer dizer, pode ser que eu até tenha uma idéia do que responder, mas ainda fico com essas
perguntas incomodando o pensamento).

Essas perguntas surgiram num momento específico da sabatina: quando a editora do "Painel" de a Folha de S.Paulo, Renata Lo Prete, questionou a senadora sobre a cláusula de barreira que restringirá a representação no Congresso dos partidos que não conseguirem "alcançar 5% dos votos nacionais, excetuados os brancos e nulos, distribuídos por 9 Estados, com um mínimo de 2% em cada um deles" ( O Estado de S.Paulo, 4/09/2006 - Cláusula de barreira contra partido nanico deve criar deputado-zumbi ). A resposta de Heloísa provou que, diferentemente do que muitos pensam, ela não entrou na disputa para perder. Afirmou que, apesar de saber o quanto será difícil alcançar os números estipulados pela cláusula, o PSOL está trabalhando para que a meta seja alçanda. Do contrário, por mais óbvio que possa parecer, não faria sentido encarrar as eleições.

Espanto? Por quê? Talvez porque já tenhamos nos acostumados com pessoas (e/ou partidos) que entram em disputas eleitorais sem, ao menos, terem se preparado para isso. E não restrinjo a questão ao fato de muitos dos partidos - ou quase todos - ingressarem em campanhas sem um plano de governo. Não! O que abordo está além: para minha decepção - não tão grande como talvez deveria ser - ainda existem pessoas que entram em eleições para perder. E o pior: isso, de fato, é o planejado. Surpresa seria alcançar uma grande quantidade de votos. Aqui está uma possível explicação para esse espanto todo em relação à candidatura e campanha de Heloísa Helena. Mesmo que nas pesquisas não passe dos 10 ou 11%, a campanha só terminará, de fato, para ela, quando todas as urnas forem apuradas. Óbvio. No Brasil, nem tão óbvio assim.

10 comentários:

Anônimo disse...

A Helô é a prova de que não há espaço para "frustraçãozinha" na disputa eleitoral de 2006. Chega de choramingos, pombas! Estou cansado de ouvir gente dizendo que vai anular o voto, que não quer saber de nada, que não tá nem aí... É hora de agir, caramba!

Sabe por que? Porque há, ainda, quem defenda uma alternativa real ao tucano-petismo. Uma política econômica diferente daquela adotada por FHC e Lula, por PSDB e PT. E é esta a questão central: que rumo tomará a política econômica no próximo governo. Já sabemos qual será tanto com Lula como com Alckmin...

Seria ótimo que o PSOL conseguisse alcançar a cláusula de barreira. Que fortalecesse suas bases nos próximos quatro anos, que conseguisse prefeituras e mais cadeiras municipais em 2008, e que alavancasse a candidatura da Helô pra 2010 (com mais tempo de TV e maior visibilidade nacional). Tomara que aconteça!

Se não der (e a verdade é que vai mesmo ser muito difícil), a esperança é que apareça alguma terceira via até lá... Talvez um "mix", sei lá, entre PDT, PPS, PSB, parte do PV, parte do PSOL, pra 2010. Algo que seja capaz de evitar o maldito troca-troca entre PT e PSDB. Pelamordedeus!

(Por isso é que eu estava torcendo pra candidatura do Garotinho emplacar. Ele é um horror, mas seria um contraponto fortíssimo à dupla maligna...)

Se o Brasil continuar condenado a FHC-Lula-Serra-Alckmin-Aécio-Tarso-Berzoini, estamos fadados ao fracasso do pensamento único. O Brasil se transformará num país com bipartidarismo não-declarado. E o pior: um bipartidarismo no qual os dois partidos defendem RIGOROSAMENTE o mesmo programa! É mole?

Eu vou de Helô também. Convicto. Mas quero mais é o que os deputados do PSOL sejam muitíssimo bem votados também!

Beijo

Anônimo disse...

Ah, só pra completar: que foto fofa da Helô! Adorei! Hehehe.

E outra coisa: que chique, hein? A dona do blog saindo na Folha com foto e tudo! É pra quem pode, né?

Beijo

Mari Marcondes disse...

Como assim foto na Folha? Você pre-ci-sa me mostrar isso!

Olha, é realemnet muito bom haver quem acredite que realmente poder mudar tudo neste chiqueiro.
Mas o fato é que a Heloísa fala muita besteira - e como é difícil para uma metida a feminista falar mal da única mulher com força na disputa. Dá para levar a sério quem diz, por exemplo, que NÃO existe rombo na previdência?
Eu queria poder acreditar.

A foto é bonita, mas eu já li Barthes e isso quebra um pouco o encanto.

Beijo

Anônimo disse...

Mari,

Tá na página A8 da Folha de hoje: "Thaís Tarma Arbex Pinhata, 21 anos, estudante", com foto e tudo. Tá linda, como sempre. Vê lá!

Da Previdência nem me atrevo a falar, porque não sei porra nenhuma sobre o tema (hehehe).

Mas pelo que tenho acompanhado nas entrevistas da Helô, não é ela quem diz que não há rombo na Previdência - é o próprio Tribunal de Contas da União, o TCU!

Pra Helô, o problema do "rombo" é a tal da Desvinculação das Receitas da União (DRU), que tira 25% das receitas da Previdência. Ela propõe acabar com essa desvinculação se for eleita e explicou direitinho na última sabatina do Estadão. Dá uma olhada nesse linque: http://www.estadao.com.br/ultimas/nacional/eleicoes2006/noticias/2006/ago/25/187.htm

PS - Pra não ficar muito panfletário, devo dizer que discordo de várias posições da Helô: ela é contra a legalização do aborto e a descriminalização das drogas, por exemplo. E também acho que ela fala muita besteira, às vezes. Mas nada que mude meu voto.

Beijo

Anônimo disse...

Nossa, hoje tô hiper-ativo! Ê!

Só pra dizer que sempre que eu escrevia "Thaís" assim, com acento, a dona do blog vinha reclamar (e isso só aconteceu 1 ou 2 vezes, é bom que se diga). Agora a Folha escreve "Thaís" e tá tudo bem, né?

Registrado o protesto. Humpf.

Mari Marcondes disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Mari Marcondes disse...

Meu o comentário excluído. Desculpaí.
Agradeço ao Fábio pelas informações, estarei mais atenta a esse fato.
E sim, sim, quanto a essas duas posições da Heloísa eu também discordo =)
E eu também escrevia Thaís. Desculpa, Thais.

Beijos

Anônimo disse...

A gente discutindo Previdência, eleições, etc, e o barbudo disparado na frente no último Datafolha... Cruzes!

É, gente, acho que é bom pensarmos em 2007. Essa eleição já foi, né?

Ah, Mari, comentei no teu blog! Bem feito: essa discussão sobre a Helô te rendeu um novo leitor. E o pior é que eu viro leitor assíduo mesmo, viu? Coitada...

Bom feriado pra vocês!

E, Thais, faltam 48 horas!!!!!!!!! Ahhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

beijo

Anônimo disse...

Para os realistas, nada melhor que Brecht:

Nada É Impossível De Mudar

Desconfiai do mais trivial ,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

Thá disse...

Julio, simplesmente SENSACIONAL!
Beijo!