27.4.09

de volta para casa. da educação que falta.

Eu teria que estar às 17h45 no consultório do Dr. Anderson, ali nas proximidades do metrô Santa Cruz. Sai de casa às 16h. Passei na lotérica para carregar o Bilhete Único. Fiquei no ponto de ônibus uns 10 minutos para pegar o primeiro ônibus. Peguei o segundo ônibus. Consegui sentar. Tinha um tantão de lugares vazios. No percurso, porém, todas as pessoas do mundo resolveram seguir o mesmo trajeto que eu. Lá pelas tantas, depois de milhares de bolsas baterem na minha cabeça, sou plateia para uma cena desnecessária:

O ônibus estava mais do que lotado. Muito muito muito cheio mesmo. É importante ressaltar. Ninguém conseguia se mexer. Eu estava sentada no primeiro banco, do lado cobrador, e da catraca, portanto. Um menino, de seus vinte poucos anos, magro, tinha acabado de passar seu bilhete único. Com muito esforço, o cobrador virou a catraca para ele. Uma ajuda importante. Atrás dele, um homem que foi alertado para esperar um pouco antes de encostar seu bilhete. Era evidente que não teria espaço para aquele senhor do lado de cá da catraca. Ele fingiu que ouviu, e foi lá com o seu "único" para debitar os R$ 2,30. Ele começou a empurrar o menino de vinte e poucos anos. "Senhor, não tenho como passar. Não me empurre". O homem respondeu: "Vai logo, senão perco o meu dinheiro". "Não me empurre, não tenho como passar". "Sai logo da minha frente, que não tô bom!". Foi assim, então, que uma discussão com direito a alguns tapas começou.

Foi impossível não lembrar do espetáculo que assisti ontem à noite no Teatro Jaraguá. Num ritmo de conversa com a plateia, Juca de Oliveira conduz o monólogo Happy Hour. Com direção de Jô Soares, Juca, sendo ele mesmo, fala sobre as coisas da vida, do cotidiano de São Paulo e de política. Mais de política. Várias passagens merecem destaque. Todas são como um tapa com luva de pelica. Mas hoje lembrei das que ele fala do trânsito, do excesso de pessoas no mundo e da falta de gentileza. Somos muitos mesmo. E assim sendo, a educação deveria fazer parte dos nossos rituais diários. Mas para os "muitos" é mais fácil bater boca, dar uns tapinhas aqui e acolá. Esperar as pessoas se acomodarem num ônibus lotado não passa pela cabeça do ser humano antes de ele encostar o seu bilhete na catraca. Ele prefere acreditar que tem razão. E o pior: sobra pra todo mundo. No meio da discussão, alguém soltou "isso só acontece no Brasil". É quase um "somos assim. Fazer o quê?".

Eu preferi descer do ônibus. Eram 17h30. Não estava nem na metade do meu trajeto. O excesso - de pessoas, carros e ruas congestionadas - não me deixaria chegar ao consultório do Dr. Anderson a tempo. Ele não poderia esperar, a secretária me falou pelo telefone. Desci e peguei o ônibus de volta para casa.

Ah, eu recomendo a peça de Juca de Oliveira. Ficará em cartaz até o dia 12 de junho, no Teatro Jaraguá, na rua Martins Fontes, 71.

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