4.5.09

a janela

Para o diretor argentino Carlos Sorín, o ideal é que o filme se passe em um único dia. E seguindo seu ideal, rodado com um roteiro de apenas 32 páginas, A Janela (La Ventana, no original) estreou no circuito brasileiro na quinta passada, 30 de abril. Vencedor do prêmio Fipresci (da Federação Internacional dos Críticos) no Festival de Valladolid (Espanha), o filme segue o último dia de vida de Antonio, escritor de 80 anos que aguarda a visita de seu filho em sua fazenda ao norte da Patagônia.

Ora silêncio, ora o tic-tac do relógio pendurado na parede, ora o som desafinado do velho piano. Sem muita explicação, sem começo ou meio, sem diálogos fortes ou marcantes. Simples. É assim, como se fosse levado pelo vento, pelas horas de um dia, os 85 minutos se passam.

Poderia ter sido mais um. Mas, assim que as primeiras cenas começaram, senti que talvez Sorín tivesse se inspirado num roteiro que conheço. E por isso não foi mais um. O fim já era sabido desde o início. E fui me preparando para me controlar e não desandar nos minutos finais. De nada adiantou.

Não tive como conter a emoção. Foi inevitável não lembrar daquele 18 de outubro de 1998. Como aconteceu entre Antonio e seu único filho, um pianista famoso, com quem ele não falava há anos, a nossa despedida também foi marcada por um olhar. E foi aí que senti uma saudade, uma vontade de tê-lo por aqui novamente só para aprender mais um pouco sobre as coisas da vida.

O protagonista vivido pelo escritor e roteirista uruguaio Antonio Larreta me colocou diante de uma imagem com a qual há anos eu não me encontrava. A Janela me trouxe as sensações do passado. Intensas, como se fossem de hoje. Sorín me trouxe a lembrança daquilo "que não deveria ter sido como foi", eu pensei assim que os créditos subiram. Precisei de alguns minutos para me dar conta, então, de que nada pode ser esquecido, de que não deve ser esquecido. O que vivemos nos faz ser o que somos. Para as coisas boas e para as ruins. Das coisas do passado, trazemos os caminhos, a força, a inspiração. Sem tudo o que passou, nada seria como é.

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