6.5.09

para aplaudir de pé

"Toda essa introdução acima é para falar do Wilson Simonal. Você sabe quem foi (ou quem é) Wilson Simonal? Um dos mais queridos e requisitados cantores dos anos sessenta. Bonachão, cheio de swing, uma voz afinadíssima, com uma inteligência rápida e rara no programa Essa Noite se Improvisa, brilhava ao lado de Chico, Caetano, Carlos Imperial, Gil, Roberto Carlos, Jair Rodrigues, Ellis. Um dia ele fez o Maracanãzinho cantar com ele, durante mais de meia hora, o Meu Limão, Meu Limoeiro. Quem não se lembra dele cantando Sá Marina? Naquele tempo o Brasil, na voz do Simona era mesmo Um País Tropical."

Esse é um trecho do artigo Esquecemos de Anistiar o Wilson Simonal, escrito por Mário Prata e publicado em 16/01/1995 n'O Estado de S. Paulo. Se você não tem a ideia da importância de Simonal para a música brasileira, terá, a partir do dia 15 de maio, uma excelente chance de ficar diante de um artista que comandou multidões com sua voz e carisma únicos. Ontem à noite aconteceu uma pré-estréia gratuita de "Simonal, Ninguém Sabe O Duro Que Dei" na sessão Folha Documenta, no Cine Bombril. Depois da exibição do documentário, rolou um bate-papo com os diretores Claudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer, e com os filhos de Simonal, Max de Castro e Wilson Simoninha.

A sala, com capacidade de 300 pessoas, estava lotada para aplaudir de pé o filme que traça a trajetória, da ascensão ao ostracismo, de um cantor que virou estrela num Brasil que só consagrava "os brancos de olhos azuis". De fundo, os anos 1960 da ditadura, da repressão, da tortura, do DOPS, da canhota e dos milicas. Os anos 1960 de Roberto Carlos e sua Jovem Guarda, dos festivais da Record, de Elis, Caetano, Chico, Gil.

Sua mãe era empregada doméstica. E ninguém imaginaria que aquele crioulinho um dia dividiria o palco com a cantora Sarah Vaughn, em sua visita ao Brasil; que acompanharia a seleção brasileira ao México na conquista do tricampeonato, em 1970; que faria mais de 300 shows em um único ano; que desfilaria pelas ruas numa Mercedes branca com estofados vermelhos. O crioulinho, que tinha um dos maiores contratos publicitários da época - com a Shell -, fez o Maracanã inteiro, uma multidão de 30 mil pessoas, cantar "Meu Limão, Meu Limoeiro". Inveja não faltou, dizem seus amigos. E talvez por isso, mas não só por isso, a estrela de Simonal parou de brilhar. No auge de sua carreira.

Acusado de ser informante dos militares da ditadura e envolvido numa acusação de sequestro e tortura contra seu contador, Simonal foi jogado às trevas. A crítica, a imprensa e a maioria da classe artística deixaram o cantor da "pilantragem" ao relento. Ele soube, então, o que significava ser negro no Brasil. Nessa época compôs, ao lado de Ronaldo Bôscoli, Tributo a Martin Luther King. "Essa música eu dediquei ao meu filho, esperando que no futuro ele não encontre nunca aqueles problemas que eu encontrei e tenho encontrado, apesar de me chamar Wilson Simonal de Castro".

Simonal morreu em junho de 2000, aos 62 anos, vítima de disfunções hepáticas crônicas. A mágoa, o excesso de bebidas e a vida longe dos palcos mataram seu fígado e tiraram sua vida. Morreu sem receber perdão, e com o desprezo daqueles que por ele foram embalados.

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